A artista Renata Tassinari apresenta no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB RJ) a exposição "Frestas", marcando quatro décadas de uma trajetória dedicada à investigação das fronteiras entre pintura e escultura. Com curadoria de Felipe Scovino, a mostra reúne trabalhos recentes e inéditos que consolidam uma pesquisa iniciada em 2002, quando a artista começou a explorar as possibilidades expressivas das caixas de acrílico.
As obras desafiam as convenções tradicionais da pintura ao utilizar estruturas tridimensionais que se projetam no espaço. Renata pinta tanto a superfície externa quanto interna das caixas, criando camadas cromáticas que dialogam com a arquitetura do ambiente. "Os trabalhos têm uma relação muito forte com a forma e com a cor, uma pesquisa que venho desenvolvendo há muitos anos. São pinturas, mas têm um caráter muito de objeto porque saem da parede e conversam com o espaço", explica a artista.
Seu processo criativo revela um rigor conceitual. Cada obra nasce de um desenho prévio, onde cores e formatos são cuidadosamente planejados antes da construção das estruturas acrílicas. "É um trabalho muito mental. Primeiro faço um desenho e depois mando executar no acrílico os formatos que quero. São feitos por partes, pinto todos por dentro e por fora e, quando estão prontos, monto diretamente na parede", detalha a artista.
Tassinari incorporou aos trabalhos o acrílico espelhado, que cria reflexos distorcidos que remetem ao movimento da água, estabelecendo uma metáfora visual que se reflete nos títulos de obras como "Marola" e "Ultramar". "Chamei alguns trabalhos de 'Narciso' por causa do espelho. O acrílico espelhado não é como um espelho no qual você vê exatamente a sua imagem, ela é distorcida. A cor entra como um elemento fixo e mais rígido e o acrílico espelhado com esse movimento, com essa estranheza", esclarece.
Felipe Scovino, o curador observa que a cor nas obras corre. "Mesmo concentrada, adquirindo um certo grau de espessura, a cor deseja o movimento. A estrutura de acrílico, preenchida de cor, longilínea e quebradiça condiciona um deslocamento. Há decididamente a imagem metafórica de um rio", argumenta. "Esta fluidez cromática contrasta com a rigidez geométrica das estruturas, criando uma tensão visual que caracteriza o trabalho da artista", acresenta.
A técnica empregada por Tassinari combina tradição e experimentação. Mantendo sua formação em pintura tradicional, ela utiliza tinta a óleo na superfície externa das caixas e acrílica no interior. "Venho de uma tradição de pintura na tela de muitos anos e gosto de usar o óleo, pois acho que as cores são mais interessantes, gosto da textura, ela tem mais corpo, acho que funciona melhor", justifica a artista essa escolha que estabelece uma relação entre cor e brilho.
Os formatos das obras variam (horizontais, verticais, em L ou em cruz) e cada configuração explorao diferentes possibilidades de diálogo com o ambiente arquitetônico. O curador destaca como essas configurações geométricas estabelecem uma relação cinética com o espectador. "Há esta ideia de fratura, da espera de uma espécie de complemento. A geometria, de alguma forma, se alimenta daquele espectador, há um certo grau cinético", analisa Scovino.
SERVIÇO
FRESTAS
CCBB RJ (Rua Primeiro de Março, 66)
Até 22/9, de terça a domingo (9h às 21h)| Entrada franca