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Raízes e reflexões

As obras de Sandra Felzen contam histórias dos saberes ancestrais e revelam uma visão integrada da experiência humana | Foto: Divulgação

A trajetória artística de Sandra Felzen atravessa questões contemporâneas e profundas, abordando temas como o feminino, a natureza e a relação intrínseca entre arte e memória. A artista carioca, cuja obra mistura elementos da cultura brasileira e saberes ancestrais, inaugura sua nova exposição, "O Tempo, O Feminino, A Palavra", nesta quinta-feira (8), com curadoria de Cristiana Tejo.

A mostra é um convite à reflexão sobre o papel da palavra e da natureza na construção do ser e na vivência do tempo. Felzen apresenta um conjunto de obras que são tanto representações visuais quanto poéticas da relação entre o feminino, o corpo e o espaço. Um dos destaques é o caderno artesanal, que contém fragmentos de sua trajetória artística e reflexões sobre o tempo, o feminino e sua íntima conexão com a natureza. Junto a ele, estão os potes e o útero, feitos a partir de tiras de tecidos que a artista recolheu ao longo de sua vida, símbolos de seus afetos e vivências.

Esses elementos, na visão da artista, materializam o conceito de passagem do tempo e de continuidade de saberes, resgatando a ideia de que a arte é um repositório de memórias e sentidos, um elo entre o passado e o presente.

O conceito da árvore é uma metáfora forte na obra de Sandra Felzen, representando a ligação entre os mundos visível e invisível, entre a terra e o céu. "A árvore é o elo entre o que está abaixo e o que está acima. Enraizada, ela tem o potencial de crescer, de se transformar, de florescer e de gerar frutos", explica a artista.

A Árvore da Vida, um conceito ancestral presente na cultura judaica, aparece de forma recorrente em seu trabalho, como um símbolo de sabedoria, de continuidade e da integralidade do ser. Para Sandra, as árvores não são apenas seres vivos, mas representações de nossa história, de nossas raízes culturais e afetivas, além de guias que nos orientam na busca por um significado maior na vida. "As árvores estão entrelaçadas com o feminino. Elas nos dão sustentação e nos fazem lembrar de onde viemos e para onde devemos ir", afirma.

A exposição também destaca outros temas importantes na obra de Felzen, como os receptáculos, como o útero, e os portais, como as janelas e os espelhos. A artista define esses elementos como "Portais no Tempo e no Espaço", objetos simbólicos que nos convidam a atravessar limites e a refletir sobre as diversas dimensões da vida. Para a artista, o feminino e a árvore formam uma única narrativa que se desdobra e se manifesta de diversas maneiras em sua obra. Seu trabalho, ao reunir esses temas, busca gerar uma reflexão contínua sobre o processo de vida e morte, de transformação e renovação, de afetividade e resistência.

SERVIÇO

O TEMPO, O FEMININO, A PALAVRA

Galeria do Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto (Rua Humaitá, 163 (entrada pela Rua Visconde de Silva, s/nº - Humaitá) | Até 29/6 | Entrada franca