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Saberes ancestrais ocupam o Museu da República

Saberes indígenas, culinária e ritmos da ancestralidade afro-brasileira marcam presença no evento | Foto: Divulgação

Encontro das Nações reúne povos originários, quilombolas e comunidades tradicionais em celebração da diversidade

No mês em que o Brasil volta os olhos para a Consciência Negra, o Museu da República se torna território de resistência e memória. Nesta sábado e domingo (22 e 23), o Palácio do Catete recebe a segunda edição do Encontro das Nações - Saberes, uma celebração da diversidade cultural que estrutura o imaginário brasileiro desde suas raízes mais profundas. Povos originários, quilombolas, ciganos, comunidades de terreiro, capoeiristas, jongueiros e sambistas ocupam o espaço histórico para uma imersão cultural num gesto de reocupação simbólica.

O edifício que já abrigou o centro do poder republicano agora abre suas portas para vozes e corpos historicamente silenciados. Onde antes se concentrava o poder excludente, agora se celebra a pluralidade que construiu nossa identidade. "O Encontro das Nações nasceu da necessidade de reunir, em um mesmo espaço, os saberes e as vozes que formam a identidade do nosso povo. Cada manifestação, cada ritmo, cada comida tradicional é um elo vivo com nossos ancestrais. É sobre celebrar, resistir e ensinar por meio da cultura", explica Marcelo Fritz, idealizador do evento.

A programação, que se estende das 10h às 18h nos dois dias, terá mais de 30 lançamentos de livros, mostra de filmes, oficinas, palestras e exposições compõem um mosaico que reconhece a ancestralidade africana e indígena como fundamento da brasilidade. Baluartes como José Beniste, Fernandes de Portugal, Mãe Márcia d'Oxum, Professor Babalawô Ivanir dos Santos, Márcio d'Jagun, Cigana Kátja Bastos, Mãe Glorinha d'Aziri e Mejitó Helena d'Dan serão homenageados no evento num reconhecimento público de quem preservou saberes apesar de todos os apagamentos históricos.

"A diversidade é uma potência que move a economia, inspira a arte e dá sabor à cultura. Quando o axé, a moda e a gastronomia se encontram, o resultado é um espetáculo de criatividade e identidade", comenta Fritz. "Juntos, eles mostram como a cultura é também um motor da economia criativa", acrescenta.

O palco abrigará apresentações de grupos icônicos como o Cacique de Ramos (Grupo Caciqueando), Awurê e Banda Afro Tafaraogi, além do grupo cigano Paulo Cigano y Los Gitanos e o tradicional Jongo Filhos de Benedito. A bateria da Portela marca presença no sábado, reforçando o elo histórico do samba com as raízes afro-brasileiras. Haverá também rodas de capoeira, maculelê e danças de povos originários com participação especial das aldeias Barra Velha (BA), Aldeia Velha (BA) e Aldeia Maracanã (RJ). No repertório espiritual, xirês homenageando as nações de umbanda no sábado e de candomblé no domingo demonstram a amplitude das tradições de matriz africana que estruturam o sincretismo religioso brasileiro.

No sábado, a programação traz as danças dos povos originários em destaque já pela manhã, com representantes das três aldeias presentes compartilhando seus rituais e cantos tradicionais. A Bateria da Portela promete fazer o público vibrar com o samba de raiz, enquanto a Banda Cigana traz a musicalidade romani que há séculos integra o mosaico cultural brasileiro. As rodas de capoeira e o Jongo Filhos de Benedito celebram a resistência afro-brasileira, e o dia culmina com o show do Cacique de Ramos, grupo Caciqueando, às 16h30, fechando com o samba que nasceu nas comunidades e conquistou o mundo. As palestras e mostra de filmes abordarão temas como samba, povos originários, nações do povo de santo e capoeira, aprofundando o conhecimento sobre essas manifestações culturais.

O domingo mantém a intensidade com mostra de filmes e palestras que mergulham em temas como cultura cigana, povos originários e as diversas nações do povo de santo. A Banda Afro Tafaraogi leva ao palco os ritmos percussivos que conectam diretamente com as origens africanas, enquanto o xirê dedicado às nações de candomblé reafirma a dimensão sagrada dessas práticas culturais. O encerramento fica por conta de Awurê, às 16h30.

A feira multicultural reunirá mais de 90 expositores com produtos autorais que vão do acarajé à comida quilombola, passando por doces artesanais, cervejas locais e moda afro. "O que nos move é a certeza de que nossas culturas, quando compartilhadas e respeitadas, fortalecem o sentimento de pertencimento. O Encontro das Nações homenageia os povos que resistem e mantêm acesa a chama da memória e da fé", reforça Fritz.

SERVIÇO

2º ENCONTRO DAS NAÇÕES

Datas: 22 e 23 de novembro de Museu da República (Rua do Catete, 153)

22 E 23/11, das 10h às 18h

Entrada franca