Por Rodrigo Fonseca
Especial para o Correio da Manhã
Uma semana se passou desde que o Brasil ganhou seu primeiro Oscar, com "Ainda Estou Aqui" e se aproveitou a folia do carnaval para encher as salas que anda ocupando, emplacando uma série de êxitos comerciais. O oscarizado drama de Walter Salles com Fernanda Torres e Selton Mello tá na boca dos 5,5 milhões e deve faturar ainda mais.
"Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa" também encheu suas sessões de espectadoras/es até a Quarta-Feira de Cinzas. O desafio é saber qual será nosso próximo blockbuster.
O primeiro candidato ao posto chega já nesta quinta e traz em seu elenco dois talentos do premiado filme de Waltinho, a Dama Fernanda Montenegro e Alan Rocha: "Vitória", de Andrucha Waddington.
A personagem central é baseada na história verídica de Joana da Paz, aposentada que desmascarou uma quadrilha de traficantes e policiais corruptos, na Ladeira das Tabajaras, na Zona Sul do Rio, com filmagens em fitas VHS.
Incluída no Serviço de Proteção à Testemunha, Joana foi apelidada de "Vitória" e teve sua identidade mantida em sigilo por 17 anos, até morrer em 2023, após o término das filmagens do longa, dirigido por Andrucha (genro de Montenegro e marido de Fernanda Torres).
Ele assumiu as filmagens após a morte do amigo e colega Breno Silveira (diretor de "2 Filhos de Francisco"), em 2022. Alan entrou no projeto no papel do jornalista que ajuda a personagem de Fernanda a debelar o tráfico.
Vitória se junta a outros papéis marcantes da grande dama de nossas artes cênicas que, no cinema brasileiro, brilhou em "Central do Brasil" (1989), "O Auto da Compadecida" (2000), "Doce de Mãe" (2012), "A Falecida" (1965) e "Eles Não Usam Black-Tie" (1981).
Outros longas também têm chance de elevar a arrecadação do cinema brasileiro no circuito de exibição. Confira quais:
MILTON BITUCA NASCIMENTO, de Flavia Moraes: Este .doc é uma celebração da turnê de despedida do Milton Nascimento que, além de registrar os bastidores do reencontro do músico com os fãs, ainda colhe depoimentos de grandes personalidades sobre a obra e a grandeza do Bituca, como Gilberto Gil, Quincy Jones, Djamila Ribeiro e Spike Lee. Estreia no dia 20.
CÂNCER COM ASCENDENTE EM VIRGEM, de Rosane Svartman: Uma espécie de "Rocky Balboa" da luta contra um tumor maligno, demarcando a potência da atriz Suzana Pires, com direito a uma atuação luminosa de Marieta Severo. A atual experiência cinematográfica da realizadora de "Como Ser Solteiro" (1998) é baseada na peleja inspiradora da produtora do longa-metragem, Clélia Bessa, para derrotar uma ameaça à sua saúde, hoje curada. Durante o tratamento que a curou de um câncer de mama em 2008, Clélia lançou um blog que se notabilizou por seu tom de desabafo. Chamava-se "Estou com Câncer, e Daí?". A partir dele, Rosane estruturou a narrativa, tendo Suzana no papel central. Estreia no dia 27.
MARIO DE ANDRADE, O TURISTA APRENDIZ, de Murilo Salles (Brasil): O realizador de "Nunca Fomos Tão Felizes" (1984) passeia pelas anotações do inquieto bardo modernista com base em sua visita ao rio Amazonas, em 1927, anterior à criação de "Macunaíma". Um ensaio visual sai desse confronto da imagem com a prosa, num processo de dição sofisticado. Estreia dia 27.
A BATALHA DA RUA MARIA ANTÔNIA, de Vera Egito: Ganhador do troféu Redentor de Melhor Filme do Festival do Rio 2023 só agora encontra data de estreia: 27 de março. A trama recria a agitação nacional de outubro de 1968. Durante a ditadura brasileira, alunas, alunos e uma série de professores com conexões com o Movimento Estudantil enfrentam ataques do Comando de Caça Comunista vindos do outro lado da rua, num evento que ficou conhecido como 'A Batalha dos Estudantes', contada em 21 planos-sequência.
MALÊS, de Antonio Pitanga (Brasil): Quase 45 anos depois de seu primeiro exercício como realizador ("Na Boca do Mundo"), um dos atores essenciais do Cinema Novo volta à direção filmando um enredo de Manuela Dias, que recria a Bahia do século XIX, em meados de 1830. Na ocasião, uma rebelião começou a ser arquitetada por africanos muçulmanos, chamados de malês. A revolta se passa no final do Ramadã, mês do calendário islâmico em que o jejum é uma forma de celebrar Alá. Após o fracasso da revolta, os manifestantes foram duramente punidos e a repressão contra as populações pretas no Brasil aumentou. Destaque para Rodrigo de Odé no elenco. A previsão de estreia é 10 de março.
HOMEM COM H, de Esmir Filho: Apontado para ser lançado no dia 1º de maio, a produção do laureado diretor de "Os Famosos e os Duendes da Morte" (2009) recria a trajetória de Ney Matogrosso (Jesuíta Barbosa) desde sua infância até o estrelato. A trama retrata suas descobertas, o sucesso meteórico dos Secos e Molhados em plena ditadura militar (quando adota o nome artístico Ney Matogrosso, acolhendo o sobrenome do pai); o encontro com Cazuza (Jullio Reis), um de seus grandes amores; e a coragem de partir para a carreira solo, com performances e atitude ainda mais provocantes. Também integram o elenco Bruno Montaleone, Hermila Guedes, Mauro Soares, Jeff Lyrio, Carol Abras e Lara Tremoroux.