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Antes do Oscar, o Grande Prêmio da Berlinale

Por Rodrigo Fonseca

Especial para o Correio da Manhã

Antes de celebrar o amor romântico e a paixão literária ao agraciar o drama norueguês "Dreams (Sex Love)", do diretor Dag Johan Haugerud, com o Urso de Ouro, no último sábado, a Berlinale 2025 consagrou os bons ventos que impulsionam o cinema brasileiro ao triunfo popular (e ao afago mundial) ao contemplar "O Último Azul", do pernambucano Gabriel Mascaro, com o Grande Prêmio do Júri. É a segunda láurea em ordem de importância no rol de troféus do festival alemão, que ainda teve um prêmio de Melhor Roteiro a oferecer a uma produção Brasil x Romênia: "Kontinental '25", de Radu Jude. Seu produtor, Rodrigo Teixeira, pode levar o Oscar por "Ainda Estou Aqui", de Walter Salles.

Falava-se do blockbuster de Waltinho, com Fernanda Torres, cada vez que a criatividade sem freios do longa de Mascaro era louvada, sobretudo no desempenho (colossal) da atriz Denise Weinberg numa Amazônia assombrada pelo etarismo. Conhecido antes por "Boi Neon" (2015) e por "Divino Amor" (2019), o realizador vindo de Pernambuco impressionou a Europa ao criar um mundo distópico perfumado de realismo mágico. Pelo jorro imaginativo e pela destreza da realização, ele conquistou ainda o Prêmio do Júri Ecumênico (um agrupamento interessado em histórias de fé e solidariedade) e a láurea do Público Leitor do jornal "Berliner Morgenpost". "Quem tem curiosidade pela vida quer voar", disse Denise, sua estrela, ao Correio da Manhã, ao analisar sua personagem, Tereza.

No enredo desse river movie filmado por Mascaro, o governo brasileiro passa a transferir idosos para uma colônia habitacional para eles "desfrutarem" seus últimos anos de vida em isolamento. Antes de seu exílio compulsório, Tereza, aos 77 anos, embarca em uma jornada para realizar seu último desejo: ter dignidade... para com ela ser livre. Para isso, vai se enfiar numa jornada fluvial com direito a um barqueiro de coração partido (Rodrigo Santoro) e uma vendedora de bíblias digitais (a cubana Miriam Socorrás).

"Tentei romper com a mitologia dos ritos de passagem, retratando uma possibilidade de libertação para corpos que, já idosos, são tratados como dissidência pela sociedade", disse Mascaro ao Correio. "Quando meu avô morreu, minha avó, com 80 anos, começou a pintar loucamente, cheia de força. Foi uma inspiração singular. Trazer para a Berlinale um filme cheio de escuta e de respeito pela realidade amazônica - construído com cerca de 20 atores de lá, com uma equipe cheia de profissionais de lá - foi uma forma de celebrar o Brasil". Continua na página seguinte