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Reflexões sobre a folia

Tarcísio Zanon | Foto: Divulgação

Para além da grandiosidade dos desfiles, o carnaval é um fenômeno cultural que atravessa séculos, transformando-se a cada geração. Reflexo da sociedade e de suas dinâmicas, a festa vai muito além da avenida e se insere em debates sobre identidade, religiosidade, política e arte. Pensando nisso, o "Papo no Abu" promoverá uma série de encontros que promete aproximar o público das vozes que refletem sobre a folia carioca.

O projeto será realizado no Espaço Abu, um teatro intimista que abrirá suas portas para conversas abertas e interativas com grandes nomes do pensamento carnavalesco. A ideia é simples: promover um bate-papo sem roteiros rígidos, onde cada convidado poderá falar livremente sobre o que lhe interessa dentro do universo do Carnaval.

"A proposta privilegia o diálogo e a troca de experiências, tornando cada encontro único e dinâmico. Entre os convidados já confirmados o compositor Paulo César Feital, o carnavalesco Tarcísio Zanon, a professora e pesquisadora Helena Teodoro, professora e historiador e cronista Luiz Antônio Simas", explica o jornalista Fred Soares, que vai mediar esses encontros.

O primeiro deles terá a participação de Paulo César Feital, um dos compositores mais respeitados do mundo do samba. Autor de sambas inesquecíveis, Feital é um profundo conhecedor da festa. "Vou falar de impriviso e me deixar provocar pela plateia", avisa o celebrado compositor, que vai abordar a construção de uma obra musical que dialoga com o Brasil e a emoção de vê-la defendida na avenida.

Já o carnavalesco Tarcísio Zanon, responsável pelos desfiles da Unidos do Viradouro, falará sobre os desafios de criar espetáculos que encantam o público e a crítica com a missão de mostrar um Brasil que nem todos conhecem, além de abordar o papel do artista na preservação e inovação da festa. "A aliança entre novas tecnologias e enredos que abordam um Brasil profundo são cruciais para renovar a tradição sem perder a essência. As inovações enriquecem as narrativas culturais, tornam os desfiles mais imersivos e conectados com o público", comenta o carnavalesco campeão do desfile de 2024, antecipando um pouco o eixo de sua partipação no projeto.

O historiador e escritor Luiz Antônio Simas trará sua leitura peculiar sobre a cidade, explorando a relação entre as festas e o Rio de Janeiro. Especialista em cultura popular, Simas é conhecido por sua visão crítica e apaixonada sobre o samba e suas múltiplas manifestações. "Beto Sem Braço (histórico compositor dp Império Serrano) dizia que 'o que espanta a miséria é festa'. Mas de que festa e de que miséria o poeta está falando? Essa me parece ser uma discussão fundamental para entender a cidade encruzilhada entre o horror e a beleza", afirma Simas.

Fechando a série, o encontro com a professora Helena Teodoro será uma oportunidade para aprofundar a discussão sobre as raízes africanas do Carnaval. Autora de importantes estudos sobre o tema, ela abordará como a festa se conecta com a ancestralidade negra e com os rituais que moldam a cultura brasileira. "Falar de carnaval é situar a resistência do povo negro para mostrar sua ancestralidade e suas culturas. As escolas de samba revelam nossas raizes, nossos territórios e nossa espiritualidade, além de mostrar nossa capacidade de criar, inovar e de manter nossas tradições com muita arte e fé na vida", diz a professora, declaradamente apaixonada pelos Acadêmicos do Salgueiro.

A realização do "Papo no Abu" é fruto do esforço de quem acredita na importância de discutir e valorizar o Carnaval para além dos dias de desfile. À frente da iniciativa está Marcela Marcatto, responsável pelo evento e pela curadoria dos encontros. Para ela, a proposta é criar um ambiente onde a conversa sobre o Carnaval possa fluir de forma livre, aproximando quem faz a festa de quem a vivencia e estuda.

"Mesmo sendo a maior manifestação cultural do Rio de Janeiro, o Carnaval segue isolado em sua própria estrutura. Nosso objetivo é criar oportunidades que ampliem a ocupação de espaços e públicos, fomentando a economia criativa. A expectativa é que essa seja a primeira de muitas iniciativas de valorização e reconhecimento dos elementos populares no cenário da cultura convencional".

Com um formato que privilegia a proximidade entre palestrantes e plateia, o "Papo no Abu" não será apenas um ciclo de debates, mas sim um ponto de encontro para aqueles que vivem e pensam o Carnaval. A proposta é oferecer ao público um ambiente de aprendizado e troca de experiências, onde as histórias, os conceitos e as ideias fluam de forma natural.

SERVIÇO

PAPO NO ABU

Espaço Abu (Av. N.S. de Copacabana, 249 - Loja E)

4/2 (Paulo César Feital), 11/2 (Tarcisio Zanon), 18/2 (Luiz Antonio Simas) e 25/2 (Helena Theodoro), sempre às 19h.

Ingressos: R$ 40 e R$ 20 (meia). Vendas em Sympla.com e na bilheteria do local