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Imóveis doados por aristocrata são investigados pelo MPRJ

Um dos imóveis citados é o Hospital Eufrásia, que está desativado e deteriorado | Foto: Reprodução/Peticao.online

Um inquérito civil foi instaurado pela Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva do Núcleo Vassouras para apurar o suposto estado de abandono e má gestão de imóveis de alto valor histórico e cultural deixados pela aristocrata Eufrásia Teixeira Leite à população de Vassouras. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), os bens doados - entre o Hospital Eufrásia, o antigo Colégio Regina Coeli e o prédio do SENAI - estão desativados e em estágio avançado de deterioração.

O objetivo do inquérito é assegurar que os imóveis tenham suas funções sociais cumpridas, conforme disposto no testamento de Eufrásia, que foi uma das primeiras mulheres a operar na Bolsa de Valores de Paris e foi uma das figuras centrais na história do Brasil e do ciclo do café no século XIX. Além de ser reconhecida internacionalmente por ser uma herdeira multimilionária, ela utilizou seus recursos herdados para ações filantrópicas voltadas à assistência social, à educação e a saúde pública.

Documentos históricos, testamento original e os imóveis abandonados com reunidos pela Promotoria para que haja uma responsabilização por omissão e desvio da destinação original dos bens. A investigação envolve a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Vassouras, atual gestora do patrimônio, e autoridades locais, incluindo a Prefeitura Municipal e o IPHAN.

Além do resgate histórico e cultural, o MPRJ também visa conter riscos sanitários verificados nas propriedades, como água parada e proliferação de insetos. Foram oficiados órgãos municipais e estaduais para adoção de medidas urgentes de preservação, fiscalização e possível tombamento dos bens.

O Correio Sul Fluminense entrou em contato com assessoria de imprensa da prefeitura mas, até o momento do fechamento desta edição, por volta das 19h, não houve resposta.

Sobre Eufrásia

Filha caçula do Dr. Joaquim José Teixeira Leite e Ana Esméria Correia e Castro, Eufrásia Teixeira Leite nasceu na cidade de Vassouras em 1859 e vinha de uma linhagem muito rica: seu avô paterno veio de Conceição da Barra de Minas para Vassouras e ela também era neta materna do barão de Campo Belo.

A família fundou na capital carioca a empresa "Casa Teixeira Leite & Sobrinhos" que emprestava dinheiro a juros e prestava serviços financeiros com fazendeiros do café.

Com a morte de seus pais, Eufrásia e sua irmã, Francisca Bernardina, passaram a administrar uma fortuna com poder de compra de quase duas toneladas de ouro aos preços da época, entre títulos e a uma casa, que hoje, virou o Museu Casa da Hera. Jovens e solteiras - que hoje, poderiam ser consideradas bilionárias - investiu sua fortuna em capital financeiro e multiplicou com maestria no circuito mercantil internacional, sendo Eufrásia a primeira mulher a entrar no recinto da Bolsa de Valores de Paris.

Com a região de Vassouras em decadência devido ao esgotamento do solo, as irmãs venderam ações, títulos, uma casa no Rio de Janeiro, cobraram créditos e fecharam a então Chácara da Hera, para morar em Paris. Em 1928, Eufrásia retornou para o Brasil e viveu seus últimos anos no Rio de Janeiro em um apartamento de Copacabana. Ela morreu em 1930, aos 80 anos. Não se casou e não deixou descendentes.

A fortuna, inicialmente, iria para o Instituto das Missionárias do Sagrado Coração de Jesus, instituição católica em Roma. No entanto, às vésperas de sua morte, legou em testamento toda sua fortuna para obras de caridade por instituições de Vassouras.