Por Lanna Silveira
Apesar de grande fluxo de criatividade, iniciativas para públicos variados e produtores com gana de investir em novos projetos artísticos, comunidades culturais de cidades interioranas sofrem com a falta de oportunidades e, especialmente, a baixa visibilidade em meio aos cenários amplos de grandes metrópoles. Pensando em trazer um contraponto a essas questões, o Futuro Lab. será realizado neste fim de semana, dias 17 e 18 de maio, das 11h às 23h30, no Clube Foto Filatélico de Volta Redonda. Sob a organização de artistas da região Sul Fluminense, o evento também é realizado por meio da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), com apoio da prefeitura de Volta Redonda, Secretaria Municipal de Cultura (SMC) e Conselho Municipal de Política Cultural de Volta Redonda.
Definido por sua organização como um "evento político", a principal função do Futuro Lab. é impulsionar a cena cultural, oferecendo meios para que ela seja reconhecida, além de criar oportunidades de conexão entre os artistas regionais e de outros locais do país. Com um calendário de rodas de conversa e workshops, o Futuro Lab. abordará tópicos como a articulação de espaços públicos e privados com artistas independentes, a representatividade feminina na discotecagem, a formação acadêmica e a formação prática no campo da produção cultural, o processo de captação de recursos e marketing cultural, entre outros da mesma natureza.
A entrada do evento é gratuita para todos os públicos e os ingressos devem ser retirados antecipadamente pela plataforma Sympla.
História
A iniciativa surge em 2022 em forma do 'Festival Futuro', com o apoio da Secretaria Estadual de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro por meio do Edital "Cultura nas Redes 2", voltado para produções na internet. O evento foi promovido em um momento de reabertura dos espaços públicos após a pandemia de Covid-19, após quase dois anos de intervenção na realização de eventos devido ao isolamento social.
Nesse contexto, fazer o Festival Futuro era uma forma de pensar o futuro por um viés positivo, que fosse sustentável e que trouxesse esperança em um momento de tanta dor. O Festival Futuro nasce como um respiro e uma maneira concreta de pensar futuros possíveis - explica Lis Almeida, DJ e produtora executiva do evento.
Para Lis, a produção dos artistas independentes da cidade, que já enfrenta dificuldades em contextos normais, foi ainda mais prejudicada durante o período pandêmico. O planejamento do Festival foi uma forma que a artista encontrou de oferecer um espaço acessível para que a comunidade pudesse voltar a produzir junto a normalização das atividades sociais. Alinhado a esse propósito, o Festival Futuro prioriza a inclusão de artistas independentes locais para compor a sua lista de atrações. "Acreditamos no potencial criativo da região e, acima de tudo, entendemos a necessidade de dar visibilidade aos talentos daqui."
Hoje, três anos após a realização do Festival Futuro e às vésperas de uma nova edição do evento, Lis acredita que a iniciativa cumpriu seu papel ao promover conexões entre a comunidade artística de Volta Redonda, iniciar novos diálogos sobre arte e levar todas essas expressões a um espaço público local.
Artistas que se apresentaram na primeira edição do evento cresceram muito depois, o que prova nosso ponto quando falamos que a região é uma fonte inesgotável de talento. Djs que se apresentaram na primeira edição depois tocaram em eventos enormes como o Festival de Inverno do Sesc, o Festival de Ativação Urbana (FAU) e o Festival Sesc Mulheres Plurais! Esse crescimento exponencial dos artistas que passaram pelo nosso palco em 2022 é uma prova concreta que nós temos muito potencial artístico na região - enfatiza.
Neste ano, a segunda edição do evento vem com uma proposta diferente: o Futuro Lab. terá o objetivo de explorar diversas formas de criação de conteúdo e promover a troca de informações e conhecimentos entre os produtores e os consumidores de cultura locais, contando ainda com a presença de artistas de outras cidades e regiões do país. A mudança de direção foi pensada após a criação de um podcast dedicado a retratar os bastidores do Festival Futuro, ainda em 2022 - ao perceber o potencial dos assuntos que eram levantados nas entrevistas com os artistas, Lis decidiu ampliar o conceito do projeto.
- Acredito que os trabalhadores da cultura não costumam a refletir sobre o próprio ofício, e essa reflexão sobre a sua própria atividade é essencial na manutenção da mesma. Quando não pensamos no nosso trabalho como um "trabalho", tendemos a fazer ele de maneira mecânica; o que é péssimo para um trabalhador da cultura, pois nossa principal ferramenta de trabalho é a criatividade. Além disso, os trabalhadores da cultura, muitas vezes, não são vistos como trabalhadores, e isso atrapalha discussões importantes como a remuneração justa, a frequência laboral e direitos trabalhistas.
Além do evento deste fim de semana, Lis adianta que a realização de outros projetos culturais sob o selo do Festival Futuro está dentro dos planos da organização. "Estamos passando por processos seletivos em alguns editais e se tudo der certo, muito em breve, teremos ótimas novidades", conclui.