A expectativa do setor energético de todo o país mais uma vez foi frustrada com a decisão do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), ligado diretamente à presidência da República, que se reuniu nesta terça-feira, dia 18, e adiou novamente a decisão sobre a continuidade ou paralisação das obras da usina nuclear Angra 3. A resolução para postergar o anúncio foi do ministro da Casa Civil, Rui Costa. O encontro entre os 17 ministros, que compõe o Conselho, começou às 9 horas, e terminou ainda pela manhã.
O ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira a favor da continuidade das obras, iniciadas na década de 80, voltou a defender sua posição, assim como fez na reunião do conselho, em dezembro do ano passado, mas salientou a necessidade de ajustar a gestão da Eletronuclear, responsável pela operação do complexo de usinas, onde fica Angra 1 e 2. O novo modelo para a estatal é feito pelo Ministério da Gestão e Inovação.
Alexandre Silveira ressaltou ainda a importância de alternativas de financiamentos para obra, com custos de pelo menos R$ 20 bilhões. A busca de recursos está sob a incumbência dos ministérios da Fazenda e Planejamento, e não foi apresentado na reunião desta terça-feira (18). Detalhe: o valor estimado para paralisar a construção é quase o mesmo para prosseguir. Algo em torno de R$ 21 bilhões, como mostrou estudo feito pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que foi contratado pela Eletronuclear.
Alexandre Silveira, que defendeu a conclusão da usina, disse que o governo gasta cerca de R$ 200 milhões por ano apenas com manutenção de equipamentos já adquiridos e que é preciso ampliar a geração nuclear.
Foi além: informou que, se a obra não for adiante, os acionistas terão que fazer um aporte imediato de R$ 14 bilhões, segundo mostra o ofício, obtido pelo Broadcast, do Grupo Estado).
O mesmo ofício aponta que a indecisão sobre Angra 3 pode acarretar "graves problemas para as empresas envolvidas e para a União, uma vez que diversas responsabilidades administrativas assumidas pelas empresas podem ser prejudicadas, bem como as suas capacidades operacionais".
Raul Lycurgo aposta em conclusão
O presidente da Eletronuclear, Raul Lycurgo, afirmou ao Correio Sul Fluminense, do Grupo Correio da Manhã, que a estatal segue totalmente empenhada em viabilizar a conclusão de Angra 3.
-Estamos aguardando a próxima reunião do CNPE, mas isso não significa que estamos parados. Pelo contrário, continuamos trabalhando com dedicação para avançar nesse projeto estratégico para o Brasil. Não vamos esmorecer, porque sabemos da importância de Angra 3 para a segurança energética do país e para a transição rumo a uma matriz mais limpa e sustentável - disse Raul Lycurgo.
O deputado federal, Julio Lopes, presidente da Frente Parlamentar Nuclear (FPN), classificou como lamentável a decisão do CNPE. "Mais um adiamento para a retomada e conclusão das obras desse empreendimento que tem toda capacidade de fornecer energia limpa, segura e de ponta. A nossa matriz energética pede por mais energia nuclear e isso passa pela conclusão das obras de Angra 3. Espero, sinceramente, que medidas sejam tomadas para podermos andar com esse projeto. Não é possível continuarmos com essa obra parada já tendo tido bilhões de reais gastos do dinheiro do contribuinte", disse Julio Lopes.
Mobilização pela obra
Na segunda-feira, dia 17, o presidente Lula esteve em Angra dos Reis, na Costa Verde, Estado do Rio, e recebeu uma carta assinada por diversas entidades e especialistas destacando os benefícios do Programa Nuclear Brasileiro para a população. Lula anunciou em Angra investimentos para a indústria naval.
Estudo do BNDES e tarifa
O estudo feito pelo BNDES estimou a tarifa em R$ 653,31 por megawatt-hora (MWh). Esse valor é similar à tarifa de referência definida pelo CNPE em 2018 (R$ 480,00, em valores da época, que atualmente correspondem a R$ 639,00). O custo para finalizar a construção de Angra 3 foi avaliado em torno de R $23 bilhões.
O relatório aponta que cerca de R$ 800 milhões em equipamentos de Angra 3 foram usados por Angra 2. Além disso, entre R$ 500 milhões a R$ 600 milhões em combustível nuclear, comprados para Angra 3, foram para Angra 2.