Por Leandra Lima
Mãe significa mulher que deu à luz a um filho, isso é o que diz o dicionário. Não deixa de ser verdade, mas para além desse único significado, a palavra e a figura materna são lidas socialmente de formas que ultrapassam a etimologia original, reforçando o protagonismo dessas mulheres na formação de cada indivíduo, principalmente no entendimento do que é o amor. Ser mãe exige grandes esforços físicos e mentais. A maternidade é uma jornada árdua onde a mulher transborda sentimentos. Há momentos de alegrias, frustrações, arrependimentos e diversas outras facetas que chegam com a carga de ser responsável por outro ser humano que depende inteiramente de tempo e cuidados especiais.
Assumir o posto de mãe e passar por todos os processos gestacionais é uma experiencia única, por isso elas também são símbolos de amor incondicional, aquele que não mede esforços para fazer a felicidade do filho. Esse reflexo é sentido pelas mães das mais novas às mais velhas, como o caso de Dona Maria da Glória, de 80 anos, que criou cinco filhas mulheres. "Viemos lá de Recreio, Minas Gerais, para o Rio de Janeiro, com parte das meninas pequenas, nós éramos muito humildes, mas nunca deixei faltar nada para as meninas. No pouco fui levando até elas crescerem e hoje estão aqui", disse.
As cinco filhas de Maria, Rosa Maria, Heloisa Severino, Jaqueline Severino, Silvana Teixeira e Rosemere Severino, nascidas no interior de Minas, relataram como foi a criação e outras reflexões que só puderam perceber o que é ser mãe na pele. "Lembro o quanto minha mãe trabalhava para não deixar faltar nada para gente, sempre estava com uma trouxa de roupas para lavar ou passar, não ganhava muito, mas uma coisa era certa não faltava nenhum alimento, ou roupa, ela comprava panos e fazia embornais para levar como mochila para escola e costurava nossas roupas", relatou a filha mais nova, Heloísa Severino.
Os sentimentos é outra coisa que elas levantaram. "A mãe não demonstra muito amor, mas esse é o jeito dela. Apesar do jeito mais frio de mostrar cuidado em palavras ela transbordava em ações, nosso pai faleceu muito cedo e a partir disso ela se tornou pai e mãe. Essa força dela foi transpassada para nós. Além disso, nos ensinou a ser uma mulher negra em meio a sociedade que visa muito a cor da pele, por isso ela sempre andava no brinco e nos fazia andar também, a limpeza foi sempre o seu maior princípio. Com toda sua história nos fez nos enxergar como princesas e isso é o que passamos para nossas filhas", contou Jaqueline Severino.
Legado
As histórias contadas se resumem em um poema da Conceição Evaristo, "Vozes Mulheres". A voz de minha mãe ecoou baixinho revolta, no fundo das cozinhas alheias, debaixo das trouxas, roupagens sujas dos brancos, pelo caminho empoeirado rumo à favela. A minha voz ainda ecoa versos perplexos, com rimas de sangue e fome. A voz de minha filha, recolhe todas as nossas vozes, recolhe em si as vozes mudas caladas, engasgadas nas gargantas", trecho do poema.
O amor e o sacrifício de Dona Maria da Glória foi referência para as filhas criarem as próprias famílias, demonstrando que o amor de uma mãe pode superar qualquer barreira.