O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) acredita que a ex-presidente Dilma Rousseff sofreu "um golpe congressual" comandado pelo centrão. Ou, mais precisamente, pela ala do centrão liderada por seus grupos mais fisiológicos.
O ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, então no MDB-RJ e hoje do Republicanos, segundo avaliação de Lula foi apenas um "operador inicial" do impeachment que, na verdade, acabou sendo obra dos partidos de centro como um todo.
Lula disse a assessores que agora o centrão repete os mesmos movimentos para tomar o controle do processo político no país. O movimento principal é a aplicação de recursos do Orçamento da União.
Nessa sexta-feira, 19, o Congresso aprovou o Orçamento de 2026 destinando R$ 61 bilhões para emendas parlamentares. São R$ 11 bilhões a mais do que em 2025.
Já na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) aprovada neste ano os parlamentares haviam determinado outra novidade que aumentou o controle sobre o Orçamento: o Executivo passou a ser obrigado negociar um calendário de liberação de emendas. Foi determinado que metade dos recursos serão pagos até o final do primeiro semestre de 2026.
Além do valor das emendas parlamentares ter um crescimento vertiginoso nos últimos anos (em 2015, eram apenas R$ 3,9 bilhões), no Orçamento aprovado sexta-feira, também aumentou de forma significativa o valor destinado ao Fundo Eleitoral, que prevê financiamento de campanhas eleitorais. A proposta do governo previa R$ 1 bilhão, o relator subiu a cifra para R$ 4,9 bilhões.
Mais: no projeto de lei aprovado na quarta-feira, 17, que reduziu em 10% parte dos benefícios fiscais do país, um jabuti ressuscitou emendas canceladas no passado. Eram pelo menos mais R$ 3 bilhões que o governo seria obrigado a liberar. O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu a liberação.
O mesmo Flavio Dino havia autorizado, na sexta-feira, 12, operação de busca e apreensão contra Mariângela Fialek, ex-assessora do deputado federal e ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) conhecida como Tuca. A funcionária trabalha na liderança do PP na Câmara e atua no setor que organiza a indicação de emendas parlamentares.
Na sexta-feira, 19, ação da PF cumpriu novos mandados de busca e apreensão contra o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (PL), e o deputado Carlos Jordy (PL) por suspeitas na gestão de recursos públicos. E foram encontrados cerca de R$ 400 mil em espécie na casa do líder.
Lula acredita que ações como essa de Dino e da Polícia Federal acabarão provocando contra ele uma investida de parlamentares da oposição e do centrão semelhante à que ocorreu sobre Dilma Rousseff.
O presidente acha que a "verdadeira guerra" será deflagrada quando ele vetar o projeto de redução das penas (nova dosimetria) dos condenados por golpe de estado, que inclui perdão também por crimes de corrupção. Mas ele não abre mão. "Estou pronto para a guerra" disse Lula a assessores.