"A situação na Câmara está tranquila para o governo", afirmou no Cafezinho do Senado o líder governista na Casa, Jaques Wagner (PT-BA), para surpresa dos interlocutores.
Como assim "tranquila"? O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB) não está em pé de guerra com o governo?
Não está mais. Esteve.
Já na segunda-feira, 15, Motta colocou em votação o projeto que libera dos cálculos da meta fiscal os gastos de saúde e educação cobertos com verbas do Fundo Social. No mesmo dia ele deu a largada na fase final da reforma tributária, que acabou sendo aprovada no dia seguinte.
Na terça-feira, Motta comandou a reunião de líderes em que foram adiados para o ano que vem, como queria o governo, dois projetos polêmicos: a Proposta de Emenda à Constituição da Segurança Pública (PEC 18/25) e o projeto de lei conhecido como PL Antifacção (PL 5582/25), que foi alterado pelo Senado e voltou para a Câmara.
Ainda na terça-feira o presidente da Câmara recebeu em seu gabinete o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com quem fechou os últimos detalhes para aprovação de outro projeto considerado fundamental pelo governo: o corte linear de cerca de 10% na maioria dos gastos tributários.
O texto foi preparado visando uma poupança anual de aproximadamente R$ 21 bilhões para os cofres públicos, permitindo fechar o Orçamento de 2026.
O que será que houve? Simples assim: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chamou Motta para um encontro no último domingo, 14. Lula desfraldou a bandeira branca entre o governo e o comandante da Câmara.
A mão estendida do chefe do Executivo veio num momento importante de fragilidade do comandante da Câmara.
Hugo Motta vinha perdendo a capacidade de gerir a Casa. Se via cada vez mais isolado após desentendimentos com lideranças do governo, da oposição e até do centrão.
Ele também arrumou problemas com o Supremo Tribunal Federal (STF) por causa de desavenças na derrubada dos mandatos dos deputados Alexandre Ramagem (PL-RJ) e Carla Zambelli (PL-SP). O primeiro, foragido no Estados Unidos, e a segunda, presa na Itália.
No final de semana, as coisas haviam piorado para o presidente da Câmara. Ele se tornou o principal alvo de manifestantes que foram às ruas protestar contra o projeto de nova dosimetria (redução das penas) para condenados pela tentativa de golpe de estado.
A conversa entre Lula e Hugo Motta no domingo permitiu que os dois acertassem, na presença de Fernando Haddad, as votações da agenda econômica nesta reta de final de ano. Haverá apenas uma semana de trabalho do Congresso até o início do recesso parlamentar.
Tudo será diferente entre Hugo Motta e o governo? Foi acertada apenas uma apenas uma trégua.