O centrão concluiu que a proximidade com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) é tóxica, mas que ainda precisa do bolsonarismo. A solução foi escolher um boi de piranha que ajude na travessia dos partidos de centro-direita pelo radicalismo conservador do bolsonarismo para, depois, ser descartado.
Os bois de piranhas são muito usados no Pantanal e na Amazônia quando rebanhos precisam atravessar rios infestados de peixes carnívoros. Um boi é lançado às águas e atacado pelas piranhas que, distraídas e alimentadas, acabam permitindo que passem os demais animais.
Já foi escolhido e lançado nas águas infestadas pelo bolsonarismo o boi de piranha do centrão: trata-se do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). Motta tem colocado em pauta todas as matérias fruto de acordo entre o centrão e Bolsonaro, atraindo para si boa parte das críticas.
Neste domingo, 14, as ruas de várias cidades do país foram tomadas por manifestações contra o projeto de diminuição das penas dos condenados por tentativa de golpe de estado.
O alvo anunciado seria a quase-anistia a Bolsonaro embutida no projeto de nova dosimetria das penas, o que permitirá ao ex-presidente conquistar o regime semiaberto após apenas dois anos e meio na cela da Polícia Federal. Ele poderá juntar isso a outras regalias por fragilidade de saúde, como a prisão domiciliar, permitindo liberar-se logo, logo da prisão.
As manifestações acabaram se voltando não só contra Bolsonaro, mas, também contra o Congresso, especialmente a Câmara e seu presidente. Os manifestantes entoaram bordões e empunharam faixas com dizeres que deixam o presidente da Câmara irritado, tais como "Fora Hugo Mota", "Hugo Nem se Importa" e "Congresso inimigo do povo". Nos carros de som, apresentadores pediam a renúncia do presidente da Câmara como solução para a crise do Parlamento.
Hugo passou a manhã reunido na Residência Oficial com a equipe jurídica da Câmara. Estudavam medidas que poderia tomar contra os ataques que vem sofrendo e, também, que tipo de reação poderia ter contra a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que considerou nula a decisão da Câmara de manter o mandato parlamentar da deputada Carla Zambelli (PL-SP), presa na Itália.
O Supremo havia determinado que a Câmara cassasse o mandato. Bastava uma canetada de Hugo Motta aceitando a decisão, como outros presidentes da Casa já o fizeram. Mas ele resolveu colocar em votação a decisão do Supremo. Gerou uma crise institucional da qual agora tenta se livrar.
A crise é agravada pela falta de autoridade do presidente da Câmara junto a seus pares. Na sessão em que absolveu Zambelli, o plenário não cassou o mandato do deputado Glauber Braga (Psol-RJ). O ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) considerava essa uma questão de honra. Guru e padrinho da eleição de Motta ao comando da Casa, Lira classificou a atual situação da Câmara como "uma esculhambação", isolando mais ainda Hugo Motta.