O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), disse a senadores ter ouvido do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), é o verdadeiro padrinho da indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, para ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).
Segundo a versão de Alcolumbre, Lula lhe disse numa conversa reservada no Palácio que Wagner argumentou: "A nomeação do Messias é o único pedido que lhe faço."
O líder nega a indicação. Diz que a escolha foi do presidente. O atual advogado-geral da União era o subchefe de análise e acompanhamento de políticas governamentais da Casa Civil, quando Wagner chefiava a pasta.
Alcolumbre fez campanha aberta pela indicação à vaga no STF em favor do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Ele contou aos colegas de Senado que se sentiu traído e, por esse motivo, rompeu com o líder. Seria também por esse motivo que resolveu marcar a sabatina para o próximo dia 10, dando pouquíssimo tempo para Messias conquistar votos dos senadores.
A decisão contraria declaração anterior do presidente do Senado de que nada faria contra a escolha de Messias.
Alcolumbre ouviu de interlocutores para os quais contou a história o argumento de que a indicação de ministro do STF é atribuição do presidente da República, e que ele não conseguirá nomear Rodrigo Pacheco abrindo guerra com o Palácio do Planalto.
"Não abri guerra para indicar o Pacheco. Isso está superado. Mas, diante do que o Jaques fez, voto em qualquer indicado, menos o Messias.
Um dos senadores que ouviu essa história disse à coluna não acreditar que o presidente da República tenha falado assim com Alcolumbre.
Segundo este senador, não é costume de Lula terceirizar responsabilidades. A escolha de Messias foi porque ele é da confiança pessoal do presidente, e este é o critério com que Lula tem se pautado nas indicações para o Supremo.
A avaliação de senadores do PT é que Alcolumbre apontou as baterias contra Jaques Wagner apenas para escolher um bode expiatório, já que não pode guerrear contra o presidente da República. Mas o senador criou uma situação insustentável. Lula não pode abrir mão da indicação agora, porque seria se dobrar a o presidente do Senado.
"Agora o Lula tem que manter o Messias e trabalhar para que ele tenha a nomeação ratificada", disse o petista.
A coluna procurou o líder Jaques Wagner. Ele disse não acreditar que Lula tenha dito a Alcolumbre que Messias era sua indicação, e não acreditar, sequer, que o presidente do Senado esteja com essa versão.
"Tem um mentiroso na história e esse mentiroso está espalhando essa versão", disse Wagner.
Quanto à possibilidade de Jorge Messias ser derrotado, Wagner também não acredita. "Vai dar tempo de fazer campanha", afirma o líder do governo.
Por sinal, Messias já começou a campanha. Depois de divulgar uma carta aberta com elogios a Alcolumbre, passou a marcar reuniões com senadores em busca de votos. Nesta quarta-feira (26), terá uma audiência com o senador Lucas Barreto (PSD-AP). Pelo visto, é voto conquistado. Lucas declarou que Messias "é um homem preparado para ser ministro".
O candidato é evangélico e tem priorizado, neste primeiro momento de campanha, os senadores da bancada evangélica. Integrantes da bancada já se dispuseram a participar da campanha para diminuir as resistências a seu nome.