Por: Tales Faria

Começa o julgamento do núcleo mais violento do golpe

Julgamento traz à tona violência que moveu a tentativa de golpe de Estado | Foto: Joédson Alves - Agência Brasil

A 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) começa nesta terça-feira, 11, a decidir os destinos dos integrantes do grupo mais violento da tentativa de golpe de Estado que resultou no quebra-quebra das sedes dos Três Poderes no dia 8 de janeiro de 2023.

É o chamado Núcleo 3 do golpe conforme a classificação da Procuradoria-Geral da República (PGR). O grupo é composto por militares de alta patente da ativa e da reserva, os chamados "Kids Pretos" e por um agente da Polícia Federal.

Estavam encarregados do detalhamento e da execução do plano batizado de "Punhal Verde-amarelo" - que previa o assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e do ministro Alexandre de Moraes, do STF - e de incitar os comandantes militares a aderir ao golpe.

Em documento enviado em setembro ao STF, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, afirmou:

"Graças à ação dos acusados, o Alto Comando do Exército foi severamente pressionado a ultimar o golpe de Estado, autoridades públicas estiveram na mira de ações violentas e forças terrestres foram disponibilizadas aos intentos criminosos."

Os réus são: o general Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira, os coronéis Bernardo Romão Corrêa Netto, Fabrício Moreira de Bastos e Marcio Nunes de Resende Júnior, os tenentes-coronéis Hélio Ferreira Lima, Rafael Martins de Oliveira, Rodrigo Bezerra de Azevedo, Sérgio Cavaliere de Medeiros e Ronald Ferreira de Araújo Júnior, além do agende da PF Wladimir Matos Soares.

As defesas de todos eles negam a participação no plano e a tentativa de incitar os comandantes. No caso do tenente-coronel, Ronald Ferreira de Araújo Júnior, Paulo Gonet admitiu que não há elementos que comprovem a sua ligação com a organização criminosa, e defendeu que seja julgado apenas por incitar os comandantes militares.

Teoricamente, os outros nove acusados de maior participação podem pegar até 43 anos de prisão pelos crimes apontados. Mas isto não deve ocorrer, já que Bolsonaro, condenado como o chefe da organização criminosa, pegou apenas 27 anos e 3 meses.

O general Estevam Theophilo encabeça o grupo como militar de mais alta patente. Ele teria discutido com o presidente Jair Bolsonaro a possibilidade de assumir o comando operacional do golpe, diante da negativa do então comandante do Exército, general Freire Gomes, de envolver a Força numa intentona dessas proporções.

Não é só em termos de dosimetria das penas que o resultado do julgamento deste Núcleo 3 está sendo aguardado com ansiedade por Bolsonaro e demais envolvidos no golpe. É a expectativa é, principalmente, sobre quanto o julgamento pode trazer à tona para a opinião pública da crueldade e da violência para a qual os golpistas estavam preparados.

As movimentações desse grupo fazem lembrar declarações antigas do ex-presidente Jair Bolsonaro segundo as quais o país "só vai mudar no dia em que partirmos para uma guerra civil aqui dentro [...] matando uns 30 mil".

Nas eleições de 2018, Bolsonaro disse que esse tipo de declaração era coisa do passado, que ele havia mudado.

Mas a tentativa de golpe e, sobretudo, a tal operação "Punhal Verde-Amarelo", em que esse Núcleo 3 parece estar envolvido até o pescoço, mostram que a possibilidade de um embate violento e sangrento com os seus opositores sempre pode voltar aos planos do bolsonarismo.

É isso que o julgamento pode trazer à tona e deixa os aliados de Bolsonaro preocupados: mostrar que, por trás dos possíveis inocentes úteis do 8 de janeiro, das "velhinhas", havia planos de extrema violência.