Por: Tales Faria

O povo não é conservador, e nem é liberal

Complexo do Alemão | Foto: Divulgação

Neste caso da megaoperação policial nos complexos do Alemão e da Penha, muitos analistas atribuíram o aumento das taxas de aprovação do governador Cláudio Castro (PL), detectado nas pesquisas, ao fato de a opinião pública ser favorável à tese "bandido bom é bandido morto".

Em suma: o povão seria conservador e, por isso, defenderia ações violentas como a da semana passada.

No entanto, a Pesquisa Quaest divulgada nesta segunda-feira (3) aponta que o tema "bandido bom é bandido morto" divide opiniões da população. Perguntados explicitamente se concordam ou não com esta frase, somente a metade (51%) dos entrevistados apoiaram a tese.

De fato, o olhar mais aprofundado nos dados da pesquisa leva à conclusão de que a população não é tão favorável quanto se imagina a teses conservadoras radicais.

Por exemplo: só 24% dos entrevistados apoiam a facilitação da compra (ou do acesso) a armas de fogo, enquanto 72% se manifestaram contra a tese defendida no Congresso pela Bancada da Bala. 

Já houve até um plebiscito sobre isso, mas com resultado divergente da pesquisa - o que mostra uma certa volatilidade de posicionamento pela população brasileira quando o assunto é desarmamento. [parágrafo corrigido]

Ainda na pesquisa Quaest, 52% se disseram favoráveis à Proposta de Emenda Constitucional da Segurança Pública, a chamada PEC da Segurança, que clareia e redefine o papel das polícias estaduais e da Polícia Federal.

A direita radical e os governadores mais conservadores têm se manifestado contra a PEC. O PL do ex-presidente Jair Bolsonaro já avisou, inclusive, que irá boicotar a tramitação.

Em discordância com a chamada ultradireita, 80 em cada 100 entrevistados disseram que os responsáveis pelo poder das facções "estão nos bairros ricos, não nas favelas". 77% responderam que as facções só controlam o Rio de Janeiro porque "as autoridades não fazem nada", e 82% afirmam que os líderes das facções "ajudam a eleger deputados".

A coluna perguntou ao CEO da Quaest, Felipe Nunes, se essas opiniões, digamos pouco conservadoras, mais liberais, expressas na pesquisa não são incoerentes com o crescimento da popularidade do governador Cláudio Castro após a dura ação da polícia nos complexos do Alemão e da Penha.

Professor da FGV, PHD em Ciência Política e mestre em Estatística ele respondeu: "Claro que não. A aprovação do governador era de 43% e chegou a 53%, praticamente o mesmo percentual dos que acreditam, por exemplo, que bandido bom é bandido morto (51%). Ou seja, o governador pode ter crescido até onde podia."

É uma possibilidade que não deixa Cláudio Castro infeliz. Afinal, se chegar à eleição em outubro de 2026 com 53% de apoio, ele estará eleito senador. A pesquisa mostra que a operação provocou uma mudança significativa na avaliação do trabalho do governo do estado na segurança pública: avaliação positiva passou de 22% para 39% entre agosto e outubro.

Mas os entrevistados cobram mais segurança. E acreditam que uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), que permite atuação das Forças Armadas, poderia diminuir a criminalidade. Vale ressaltar que já houve 22 GLOs no Rio de Janeiro. Ouvidos pela Quaest, 59% defenderam que o governo federal deve decretar a GLO nos moldes do que ocorreu em 2018.

Hoje, nem o próprio então ministro da Segurança, Raul Jungmann, que atuou na decretação da GLO, defende que ela seja instaurada novamente.

Enfim, não dá para enquadrar o eleitor em uma visão de mundo homogênea. E o certo ontem pode ser errado hoje. Ou vice-versa.