Por: Tales Faria

Em favor de Pacheco, Alcolumbre fez suspense e adiou derrubada dos vetos ao licenciamento ambiental

Davi Alcolumbre e Rodrigo Pacheco- Foto Edilson Rodrigues - Agência Senado | Foto: Edilson Rodrigues - Agência Senado

A manchete do portal oficial do Senado até as 19h desta quarta-feira, 15, era a seguinte: "Adiada votação da LDO; Congresso analisará apenas vetos à Lei do Licenciamento."

O portal é acompanhado por lupa pela assessoria do presidente do Senado, Davi Alcolumbre. Com o aval dele, deixou no ar praticamente por todo o dia a dúvida sobre se a votação dos vetos à Lei de Licenciamento Ambiental iria ocorrer no dia seguinte, ou seja, nesta quinta-feira.

Enquanto o portal permanecia confirmando a votação, o próprio Alcolumbre dava a entender a senadores próximos que ela não haveria.

O motivo do suspense era o interesse de Alcolumbre em garantir que sua indicação do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) para ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) será encampada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Nesta manhã, a assessoria da presidência do Senado distribuiu nota enfim adiando a sessão. Disse a nota: "O Presidente do Congresso Nacional, senador Davi Alcolumbre, informa que a sessão conjunta do Congresso Nacional, convocada para esta quinta-feira, está cancelada. A decisão atende a uma solicitação da Liderança do Governo no Congresso."

Lula tem sofrido forte pressão, não só de Alcolumbre, mas também de ministros do STF e políticos do centrão para indicar Pacheco à vaga aberta pela aposentadoria do ministro Luís Roberto Barroso. Mas também tem sido aconselhado por assessores e políticos do PT a não indicar o senador.

Petistas temem que o clima de beligerância entre o Palácio do Planalto e o centrão aumente e, neste caso, cada ministro da confiança do presidente será decisivo para barrar pautas bombas contra o governo.

Episódios como os julgamentos do Mensalão e da Lava Jato, assim como o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e o período de prisão do próprio Lula, ainda assombram os petistas.

Nesses episódios, políticos do centrão rapidamente saíram da posição de aliados para opositores. E ministros do Supremo ou se tornaram verdadeiros carrascos, ou, no caso dos mais próximos ao PT, se omitiram.

Desde que Lula voltou à Presidência da República, tem sido aconselhado a não indicar para o STF nenhum ministro que não seja de sua inteira confiança.

No caso de Pacheco, Lula até tem alguma confiança nele, mas não tanto quanto, por exemplo, em Jorge Messias, o ministro-chefe da Advocacia Geral da União que tem o apoio total dos petistas para a vaga.

No xadrez dos petistas, Lula deveria indicar alguém de sua inteiríssima confiança para o STF e negociar com Pacheco que ele se torne o candidato do Planalto para governador de Minas Gerais.

Mesmo quanto a Messias há dúvidas se Lula não aproveitará para se render às pressões da ala do PT que defende a indicação para o STF de uma mulher negra da confiança do presidente.

Diante de tantas dúvidas e pressões, Lula hesita em bater o martelo, o que deixa o centrão e Alcolumbre mais excitados ainda.

Para o centrão, se assumir no STF, Pacheco funcionará como um representante do grupo na Corte. Alcolumbre tem um acordo de apoio mútuo com ele, que deseja cumprir agora, no preenchimento da vaga do STF. E o próprio Pacheco tem dito a amigos que não deseja concorrer a governador e que prefere tornar-se ministro do STF.

Esticar a corda com a votação dos vetos ao projeto de licenciamento ambiental interessa a Alcolumbre como uma forma de pressionar Lula. Daí porque ele manteve em suspense se adiaria ou não a sessão do Congresso desta quinta-feira.

Com a votação de fato for adiada, haverá mais uma semana de suspense e negociações pela frente para mexer com os nervos do centrão, dos ambientalistas interessados em saber o destino do licenciamento ambiental, dos petistas temerosos de traições e das torcidas pelos candidatos e candidatas à vaga no Supremo Tribunal Federal.