O ex-presidente Jair Bolsonaro e seus filhos estão convencidos de que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), já está candidatíssimo a presidente da República. E que, mais do que em busca de votos, nesta fase ele tem como prioridade obter o apoio de Bolsonaro à sua candidatura.
Foi assim que o clã entendeu a entrevista de Tarcísio de Freitas ao Diário do Grande ABC, na última sexta-feira, 29, e seus movimentos mais recentes.
O governador afirmou que seu primeiro ato, caso fosse eleito e assumisse a Presidência da República, seria o de conceder indulto ao ex-presidente.
Tarcísio negou, na entrevista, que seja candidato. Mas o clã Bolsonaro entendeu sua fala como um recado ao ex-presidente e aos eleitores bolsonaristas. O recado serve também à chamada "Faria Lima", para que os doadores de campanha não procurem outros candidatos.
Como um político em campanha, o governador intensificou seus movimentos. Ele, por exemplo, pediu na semana passada ao líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcanti (RJ), uma cópia da proposta de anistia defendida pela oposição.
Na manhã desta segunda-feira, o governador também reuniu-se com o deputado federal Marcos Pereira (SP), presidente nacional de seu partido, o Republicanos, para discutir o projeto de anistia que tanto interessa a Bolsonaro.
O governador disse a Marcos Pereira que o partido tem que dar "apoio firme, com votos," ao projeto. Ele também afirmou que está buscando apoio dos presidentes de partidos do Centrão, como PP e União Brasil.
Tarcísio pode, inclusive, viajar a Brasília, nos próximos dias, para pedir ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que paute a votação da anistia tão logo acabe o julgamento de Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Bolsonaro se aproveita dos movimentos do governador. Mas seus filhos não estão gostando nem um pouco. Acham que a vaga de candidato deve ficar para a família. Nem mesmo gostam dos aceno à Michelle Bolsonaro feitos pelo presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto.
O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), conhecido como o filho Zero Três do ex-presidente, declarou em entrevista ao canal no YouTube do jornalista Cláudio Dantas, que Tarcísio não tem o perfil de "combate ao establishment" buscado pelos bolsonaristas.
Dos Estados Unidos, onde mora no momento, Eduardo afirmou até mesmo que ele próprio poderá disputar o Planalto, nem que seja por outra sigla que não o PL, caso seu pai seja impedido de concorrer e a legenda não queira lançar seu nome.
"Ao que parece, o PL quer direcionar uma candidatura para o Tarcísio ou para alguém que não seja o Bolsonaro. Na minha opinião, isso é um atropelo da opinião pública e não é só do meu nome, é o do Flávio Bolsonaro também", afirmou.
O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, afirmou na semana passada que conta com a filiação de Tarcísio, caso o governador acerte o apoio do ex-presidente Bolsonaro. Outros caciques de partidos do centrão, como PP, PSD e União Brasil também têm acenado para Tarcísio, enquanto Eduardo não esconde seu descontentamento.
"Se o Jair Bolsonaro não concorrer, eu vou ter que procurar outro partido e sair candidato. Mesmo que seja derrotado, existe vitória na derrota", afirmou na entrevista.