Por: Tales Faria

Bolsonaro aparece como traidor

De acordo com diretório, prisão fere a democracia | Foto: Tânia Rego/Agência Brasil

As trocas de mensagens extraídas pela Polícia Federal do celular de Jair Bolsonaro expuseram uma face do ex-presidente República que pode ser destruidora para sua popularidade e para sua relação com aliados.

Bolsonaro se expôs como traidor, o que é considerado mortal para a imagem dos políticos, segundo especialistas em campanhas eleitorais.

Um dos piores momentos divulgados nas trocas de mensagens por WhatsApp foi aquele em que o próprio filho do ex-presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o xingou. Eduardo denunciou uma traição do pai, à qual classificou como "ingratidão".

No diálogo, o filho reclama do fato de Jair Bolsonaro tê-lo chamado de imaturo durante uma entrevista ao site Poder 360:

"VTNC SEU INGRATO DO CARALHO'!, escreveu Eduardo em maiúsculas, conforme divulgado pela PF. A sigla VTNC significa "vai tomar no c..."

Além da traição contra o próprio filho, as mensagens revelaram pelo menos outras quatro traições do ex-presidente.

A primeira delas, quando traiu empresários que o apoiaram desde a campanha eleitoral, mas que estão sofrendo prejuízos com o tarifaço imposto pelos EUA - tanto os da chamada "Faria Lima" como os do agronegócio. Bolsonaro deixou claro que só tentará reverter a situação se a anistia for aprovada aqui no Brasil.

Em áudio enviado ao pastor Silas Malafaia, o ex-presidente afirmou que tem articulado com seus interlocutores - aos quais se refere como "pessoas mais acertadas" - que, "se não começar votando a anistia, não tem negociação sobre tarifa".

"Não adianta um ou outro governador querer ir para os Estados Unidos, ir para embaixada, para não sei onde quer que ele vá tentar sensibilizar, não vai conseguir", enfatizou.

Depois, em conversa com seu filho Eduardo, ficou claro que o clã está disposto até mesmo a trair os bolsonaristas mais radicais, como os que o ex-presidente incensou a invadirem as sedes dos Três Poderes em Brasília.

"Se a anistia light passar, a última ajuda vinda dos EUA terá sido o post do Trump. Eles não irão mais ajudar", comentou Eduardo, pontuando que não vale colocar em risco a aprovação da anistia apenas para "enviar [para casa num semiaberto] o pessoal que esteve num protesto que evoluiu para uma baderna".

E mais: o próprio desejo de fugir do país, revelado em um texto encontrado no celular, intitulado "Carta JAIR MESSIAS BOLSONARO" e que seria endereçado ao presidente da Argentina, Javier Milei. O brasileiro afirma estar sendo "perseguido por motivos e por delitos essencialmente políticos" e conclui: "apresento este requerimento, solicitando a concessão de asilo político à minha pessoa, Jair Messias Bolsonaro".

Trata-se do que pode ser interpretado como uma traição contra aqueles que votaram nele e esperavam do seu líder que ficasse no país lutando até o final, como ele prometeu durante o governo.

Sem contar a maior de todas as traições, que já está produzindo estragos na popularidade de Bolsonaro: a traição contra o país como um todo, promovida por quem fez campanha dizendo-se "um patriota". As mensagens mostraram-no incentivando o chefe de outro país a desrespeitar a soberania do Brasil com a aplicação de sanções contra autoridades dos Três Poderes.

Por conta disso a pesquisa Quaest divulgada nesta quarta-feira revelou que , quando se aborda a postura dos atores políticos diante da crise, 48% avaliam que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PT adotaram medidas corretas, enquanto apenas 28% enxergam Bolsonaro e seus aliados da mesma forma.

Lula deu uma virada na popularidade, enquanto o clã de Jair Bolsonaro despencou.