Por: Tales Faria

Dos EUA, Eduardo Bolsonaro agora ameaça o centrão

Eduardo Bolsonaro está nos EUA desde março, onde atua como parlamentar à distância | Foto: Reprodução/ Redes Sociais

O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), contou a colegas que recebeu um telefonema do youtuber Paulo Figueiredo, que acompanha o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos EUA.

Figueiredo e Eduardo Bolsonaro teriam marcado encontros com autoridades norte-americanas para discutir novas medidas de intervenção na política e no Judiciário brasileiros visando a absolvição do ex-presidente Jair Bolsonaro e demais envolvidos na tentativa de golpe contra o atual governo.

Segundo Sóstenes, Paulo Figueiredo perguntou-lhe se ele e Eduardo deveriam atuar para que fosse cassado o visto de entrada nos EUA do líder do PSD na Câmara, Antônio Brito (PSD-BA).

O deputado é acusado pelos bolsonaristas de ter recuado de um suposto acordo que teria acertado para inclusão, na pauta de votações do plenário, do projeto de derrubada do foro privilegiado para autoridades nos casos de crime comum.

De fato, Brito participou das conversas. Mas ele nega que tenha fechado acordo com os bolsonaristas. Segundo afirma, o acordo só teve o aval do União Brasil, do PP e do Novo, além do PL. Sóstenes insiste que Brito havia firmado o acordo.

O líder do PL, no entanto, disse aos colegas nesta quarta-feira, 13, que respondeu a Paulo Figueiredo que não fizessem nada contra Antônio Brito. "Se Eduardo e o Paulo fizerem, vão atrapalhar minhas negociações aqui no Congresso", contou.

Sóstenes Cavalcante diz que está marcada para esta quinta-feira, às 10h, uma nova reunião de líderes da Câmara a fim de discutir a pauta de votações da semana que vem.

"Eu tenho grande esperança de que sairemos da reunião com a derrubada do foro privilegiado pautado para a semana que vem", disse mais tarde em entrevista no Salão Verde da Câmara.

A coluna procurou Antônio Brito para saber se ele, afinal, vota pela colocação da derrubada do foro em pauta, ou não, mas o líder do PSD não retornou às mensagens.

Sóstenes também contou a colegas que Eduardo e Paulo Figueiredo estão "acompanhando passo a passo" as movimentações no Congresso pela votação do foro e do projeto de anistia aos envolvidos na tentativa de golpe de Estado.

Segundo ele, não é só Antônio Brito que está sendo vigiado. Também estariam na linha de tiro de Eduardo Bolsonaro os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Progressistas-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP).

Além de caciques do centrão, cabe aos dois comandantes do Congresso definir as pautas de votações em plenário.

Os bolsonaristas querem forçar Alcolumbre a pautar o pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Já de Hugo Motta cobram que coloque em pauta a derrubada do foro privilegiado.

O pedido de impeachment de Moraes já teria a assinatura da maioria dos senadores, mas Alcolumbre declarou que não colocará em pauta. Quanto ao foro privilegiado, Hugo Mtta tem dito que não é o momento de se votar o assunto.

A atuação do clã Bolsonaro em favor da interferência dos EUA contra as instituições no Brasil já foi classificada por ministros do STF como uma traição ao país. Eduardo, no entanto, parece não estar disposto a voltar atrás. Pelo contrário. Agora se volta contra antigos aliados no centrão.