O enfraquecimento do atual presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), após o motim de deputados na semana passada, permitiu que o ex-presidente da Casa Arthur Lira (PP-AL) volte aos velhos tempos de exposição de poder que vivenciou durante o governo Jair Bolsonaro.
Lira participou nesta terça-feira de um almoço com integrantes da Coalizão de Frentes Parlamentares em que se viu cercado de atenção, afagos e pedidos de empresários de vários setores.
O encontro ocorreu na sede da FPE (Frente Parlamentar do Empreendedorismo), numa mansão do Lago Sul de Brasília, para o qual foi convidado na qualidade de relator do projeto de lei (PL 1.087/25) que prevê a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000.
A relatoria, por si só, já o colocaria em posição de destaque. Mas o ex-presidente da Câmara foi brindado com o motim da oposição na semana passada em que Hugo Motta perdeu o controle da Casa.
Os amotinados tomaram de assalto a Mesa Diretora e a própria cadeira do presidente. Líderes chamaram Arthur Lira para ajudar na procura de uma saída.
Só então Motta conseguiu sentar na cadeira. Depois anunciou que 14 amotinados mais extremados sofreriam punição sumária. Deu 48 horas ao corregedor da Câmara, Diego Coronel (PSDB-BA), para analisar o caso e apresentar seu parecer.
Mas Motta acabou recuando e Coronel anunciou que adotará um rito longo. Disse ter 50 dias úteis de prazo para concluir o caso. Na verdade, mesmo esse prazo pode ser alongado.
As sanções podem ir da suspensão do mandato por até seis meses, nos casos considerados mais graves, a simples advertências.
Tudo isso acabou enfraquecendo a autoridade de Hugo Mota diante dos deputados e fez de Lira de novo um homem forte na Câmara.
"A fragilidade do Hugo empoderou o Lira", disse à coluna o deputado Ivan Valente (Psol-SP).
Empoderado, Lira voltou a posar como quando presidia a Câmara. E a falar como se fosse de fato o senhor do tempo na Casa. Cercado por empresários, ele anunciou que o projeto de isenção do IR não deverá ser votado antes de setembro, podendo ficar para dezembro.
Esticar o prazo de votação de projetos até o limite é a forma mais comum utilizada pelos parlamentares para conquistar mais benesses dos governos.
"Dependendo das variações e sugestões de proposta, esse texto pode ficar com mais urgência ou menos urgência, com prazo de setembro ou prazo de dezembro", disse.
Aproveitou para tirar uma casquinha da gestão atual, criticando o clima na Câmara: "O ambiente político não é o mais agradável.", disse.
Crítico, o ex-presidente da Câmara apontou "distorções" na LCA (Letra de Crédito do Agronegócio) e na LCI (Letra de Crédito Imobiliário).
A tributação sobre esses títulos, bem como CRIs, CRAs, Fiagros e FIIs, foi incluída na MP (Medida Provisória) 1.303/2025, apresentada como uma alternativa ao decreto do governo que elevou o Imposto sobre Operações Financeiras.
Lira afirmou que a alíquota sobre os títulos foi removida "em concordância com o governo para que houvesse a possibilidade de fazer um ajuste nessas letras para que elas realmente cumpram o papel para o qual foram criadas".
Como em setembro expira a validade da medida provisória que ampliou a alíquota do IOF, Lira acabou dando a entender aos empresários que usará o projeto de IR para também comandar alterações no IOF.
Ou seja, já prepara o caminho para deter ainda mais poder até dezembro.