O ex-presidente Jair Bolsonaro e seus filhos, especialmente o Zero3, Eduardo, parecem não ter percebido que os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiram não mais aceitar o que consideram provocação e traição contra o país.
Sem contar os três ministros hoje são considerados aliados do bolsonarismo - Kassio Nunes Marques, André Mendonça e Luiz Fux - todos os outros oito concluíram que é chegada a hora de dar um basta na família.
As gotas d'água foram a presença virtual de Bolsonaro nas manifestações deste domingo, 3, por chamadas de vídeo, e os posts de seus filhos nas redes sociais em cenas combinadas com o pai.
Foi com o apoio dos colegas que o ministro Alexandre de Moraes declarou, na abertura do semestre legislativo, considerar "uma traição ao país" os Bolsonaros promoverem retaliações do presidente dos EUA, Donald Trump, contra o Brasil.
Sem citar nomes, Moraes classificou como atitude de milicianos os episódios em que o ex-presidente e seus filhos disseram estar se "esgotando o tempo" para as autoridades decidirem pela anistia aos condenados por tentativa de golpe de Estado.
Para os ministros, ameaçar de morte as empresas do país é uma chantagem semelhante à de um sequestrador.
Também foi com apoio dos colegas, que o decano do STF, ministro Gilmar Mendes, classificou as atitudes da família Bolsonaro como atos de "lesa-pátria".
"Traição" e "lesa-pátria" não estão explicitamente previstas na Constituição, mas, segundo juristas, o atentado à soberania tem a mesma dimensão de traição.
Daí porque, no ato de abertura do semestre legislativo, os ministros apontaram como atentado à soberania do país, o presidente dos EUA impor a Alexandre de Moraes a Lei Magnitsky.
O mesmo discurso em defesa da soberania está sendo lançado pelo Poder Executivo. A expressão "ataque à soberania" foi fartamente usada no jantar que reuniu o presidente Lula aos ministros do STF no Palácio da Alvorada na quinta-feira (31).
Essa conclusão de que Bolsonaro e os filhos estão prestes a serem enquadrados por traição é que afastou governadores do comício bolsonarista deste domingo, 3.
Até o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, um possível candidato de Bolsonaro à Presidência da República, faltou às manifestações. Assim como Romeu Zema (MG), Ratinho Junior(PR), e Ronaldo Caiano (GO).
A coluna perguntou ao governador de Goiás se ele achava patriótico concordar com o tarifaço do Trump sobre o Brasil. Caiado respondeu: "Desde o início, me posicionei contra. E tenho trabalhado junto à Embaixada dos EUA para retirar essa taxação."
Caiado diz até que conseguiu obter "boas perspectivas" de os EUA reverem taxação das carnes.
"Meu último contato com o encarregado de negócios da Embaixada dos EUA, Gabriel Escobar, foi na quinta feira (31). Ele me sinalizou com boas perspectivas de rever a tributação sobre a carne e outros itens", respondeu.
Em vez de promover o ataque dos EUA ao Brasil, o governador mirou suas baterias contra seu adversário político aqui: tentou convencer o secretário da Embaixada de que o tarifaço de Trump, na verdade, tem servido para aumentar a popularidade de Lula.
"Eu havia deixado claro o dividendo político que o Lula quer tirar com esse enfrentamento", argumentou.
Ou seja, uma atitude mais inteligente: em vez de se juntar a outro país contra o Brasil, o governador defendeu a economia brasileira e apenas voltou suas baterias contra seu adversário político.