O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse à coluna que “há pessoas mais interessadas em discutir se o Lula deve telefonar para o [presidente dos Estados Unidos, Donald] Trump, do que os termos do tarifaço que ele anunciou contra o Brasil.
Perguntado sobre o motivo disso, ele respondeu: “É um jogo natural das elites com o qual já estou acostumado.”
Segundo Haddad, parte da mídia e do empresariado “assimilou erradamente o discurso da oposição” de que o governo não tem feito nada para negociar com os EUA uma diminuição na tarifa de 50% anunciada sobre todos os produtos brasileiros.
“O Nelson Rodrigues dizia que há um certo vira-latismo no Brasil. Eu diria que a oposição bolsonarista tem discurso do vira-lata e cobra do presidente que ele tenha uma postura assim. Mas o Lula não vai dizer ‘I love you’ para o Trump.”
O ministro afirma que o governo tem buscado canais de negociação com os EUA “o tempo inteiro”. Ele lembra que em maio encontrou-se na Califórnia (EUA) com o secretário do Tesouro Scott Bessent.
Segundo ele, foi “uma conversa importante” entre os dois. Mas, nem mesmo Bessent deixou claro, na época, se sabia detalhar até onde Donald Trump está disposto a negociar. “Se sabia, não disse”, afirmou.
O encontro com Bessent foi intermediado pelo ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga.
Haddad explica que o que não dá é para Lula simplesmente telefonar para o presidente dos EUA, como a oposição vem cobrando.
“Essas coisas têm protocolo, você tem que combinar mais ou menos os termos da conversa”, argumentou.
O ministro lembrou o famoso encontro no Salão Oval da Casa Branca entre o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e Trump.
“O Zelensky foi para lá aparentemente sem uma preparação anterior. Acabou sofrendo uma humilhação pública. O presidente Lula não pode cair numa situação dessas.”
Ele insiste: “Isso tudo tem uma liturgia. Ambos os lados precisam chegar e sair de uma maneira equilibrada, altiva. Presidentes têm que se dar ao respeito.”
Haddad afirma que “o que está em jogo nesses momentos é não só a imagem do país, mas a nossa própria soberania. E o presidente Lula tem deixado claro que não abriremos mão da soberania do Brasil”.
Lula já declarou publicamente que o Brasil não aceita interferência no poder Judiciário, nem pretende abrir mão do controle sobre nosso território, especialmente em relação à exploração das chamadas terras raras.
Outro ponto que o ministro faz questão de afirmar é que o presidente Lula pediu, e já recebeu, um plano de contingência para minimizar os efeitos do tarifaço.
“Não sabemos ainda o que vem por aí. Temos que esperar as informações, as condições de Trump. Mas já entregamos ao presidente um plano com várias opções, de curto, de médio e de longo prazo, até com medidas estruturantes.
Perguntado quando esse plano entraria em execução, ele diz que depende de Lula e dos EUA. “Assim que o presidente determinar o caminho a seguir, em 24 ou 48 horas podemos colocar em execução.”
Esse plano, segundo a coluna apurou, inclui crédito a juros mais baixos para empresas mais atingidas.
Agora é esperar a próxima sexta-feira, dia 1º de agosto, quando a nova tarifa de 50% começaria a valer.
Só então saberemos quais peças Donald Trump mexerá no tabuleiro deste jogo xadrez. Ou será um jogo de truco?