Por: Tales Faria

Tales Faria | Trump, o Chacrinha da guerra

Donald Trump | Foto: Gage Skidmore - Peoria, AZ, EUA, CC BY-SA 2.0

Abelardo Barbosa, também conhecido como Chacrinha, foi batizado por Gilberto Gil como o "Velho Guerreiro". Ele cunhou frases que entraram para a história. A que ficou mais famosa na sua época foi: "Quem não comunica, se trumbica". Passou a fazer parte dos manuais de publicidade.

Nada mais justo. Chacrinha era um grande comunicador.

Outra frase do Velho Guerreiro não só também ficou muito famosa como acabou encampada - em diferentes termos - pelo norte-americano Steve Bannon, considerado atualmente o maior estrategista da ultradireita conservadora no mundo.

Pode-se não concordar ideologicamente com Bannon por promover ideias e atitudes racistas, sexistas e xenofóbicas. Mas a verdade é que ele, de fato, é uma figura importante em seu meio.

Bannon atuou durante muito tempo como principal guru do atual presidente dos EUA, Donald Trump, especialmente no primeiro governo.

E qual o conceito cunhado por Chacrinha que foi encampado por Steve Bannon? Aquele em que o Velho Guerreiro afirmava: "Eu não vim para explicar, vim para confundir."

Steve Bannon deu uma nova roupagem à frase de Chacrinha, tornando-a um conceito a ser incorporado como estratégia de gestão pelos governos ultraconservadores. Batizou este conceito de "flood the zone". Uma tradução livre seria: "inundar a área".

A ideia é inundar o noticiário com informações - reais ou falsas - que ocupem a atenção de analistas e dos adversários, enquanto o autor assume o protagonismo dos acontecimentos.

Os adversários se ocupariam tanto da inundação que deixariam o gestor em condições de direcionar os acontecimentos para aquilo que de fato lhe interessa.

Donald Trump usou e abusou dessa estratégia no seu primeiro governo. Só não soube aproveitar a "distração dos adversários" para direcionar os acontecimentos apropriadamente. Acabou fazendo um mau governo e não conseguiu se reeleger.

Mas Trump não abandonou a estratégia "flood the zone". Começou este seu segundo mandato na Casa Branca inundando o noticiário com a edição de mais de 300 decretos, muitos esdrúxulos e polêmicos, apenas para distrair a atenção dos adversários.

Também está fazendo assim em relação à guerra do Oriente Médio. De início não deu importância ao assunto, mas, aí, sofreu críticas da oposição e de seus aliados trumpistas por ter deixado que o primeiro ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, assumisse o protagonismo dos acontecimentos.

Donald Trump, então, entrou em campo de corpo e alma. Mas veio como o Chacrinha: para confundir, inundando o noticiário de idas e vindas e deixando todos atônitos.

A tal ponto que: a) ameaçou o Irã com destruição total; b) também ameaçou Israel de abandonar o velho parceiro dos norte-americanos; c) ameaçou largar a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) a seu destino; d) ameaçou de abandono seu velho aliado, o presidente da Rússia, Vladimir Putin; e d) cobrou da Europa aumento brutal de investimentos na área militar.

Tudo temperado com gestos histriônicos e declarações misteriosas, ora atuando como um apresentador de TV do programa "O aprendiz", ora se comportando como um líder populista, ora batendo e ora bajulando interlocutores.

Ora perdendo, ora ganhando, o presidente dos EUA Donald Trump deixou analistas e diplomatas do mundo inteiro tontos. Ameaçou por diversas vezes tocar fogo na guerra e, finalmente, anunciou que teria colocado um ponto final no conflito. Coisa que até agora ainda não se confirmou.

Como o Chacrinha, Trump mostrou que não veio para explicar, mas para confundir.