Os juros brasileiros são indecentes. A Selic, Sistema Especial de Liquidação e Custódia, é a taxa básica de juros da economia brasileira, definida o juro real brasileiro — após descontada a inflação — está em cerca de 9,7 % a 9,8 % ao ano. Juros reais! Temos a segunda maior taxa básica de juros do mundo. Apenas a Turquia tem uma taxa mais absurda.pelo Banco Central para controlar a inflação. Ela foi mantida em 15% ao ano, por decisão do Comitê de Política Monetária Nacional, o COPOM, no último dia 5 de novembro. Com isso,
A perspectiva da dívida pública brasileira é chegar a 75% do PIB, o Produto Interno Bruto. Isso é palavrão para o mercado financeiro, que exige, via de regra, a redução da Dívida/PIB como a solução para diminuir a inflação. Em tese, há razão na demanda. Sempre é utilizado o argumento de que não se pode gastar mais do que se arrecada. Beleza, no mundo ideal. Mas esse mundo não existe. Na Europa, por exemplo, a dívida pública da Itália chega a 138% do PIB italiano, na França a 115% do PIB francês, na Bélgica a 106% do PIB belga, na Espanha a 103% do PIB espanhol e em Portugal a 96% do PIB português. No Japão, a relação entre dívida pública e Produto Interno Bruno do ano passado foi de 216%. E a perspectiva para esse ano é chegar a quase 230%! Nos Estados Unidos ela chega a 125% do PIB. Na China, o mercado estima a dívida pública em torno de 100% do PIB.
Os economistas ortodoxos afirmam que a razão é o grau de produtividade e consumo dessas sociedades que dão sustentação a essas relações deficitárias entre dívida pública e produto interno bruto. Sim, sem dúvida. Mas como o Brasil sai da armadilha em que nos encontramos, se não for com a incorporação das massas trabalhadoras ao consumo? A taxa média de empréstimo pessoal em nosso país está em 8% ao mês. Isso equivale a uma taxa efetiva anual bastante elevada de 150% ao ano! As menores taxas médias para consignados de servidores públicos, segurados do INSS e CLT variam de 1,30% a 1,70% ao mês. Estamos tratando de empréstimo a pessoas cujo risco de inadimplência é baixíssimo. A taxa média de empréstimo a empresas no Brasil é de 25% ao ano. No financiamento da casa própria varia de 10% a 13% ao ano mais TR, a Taxa Referencial, que está em 1,88% ao ano.
O custo do dinheiro no Brasil é muito caro para quem quer liquidar as suas dívidas, para o empresário que deseja investir e para o novo empreendedor. A maioria das pessoas e das empresas vive na rolagem de dívidas no seu CPF ou no seu CNPJ.
A expansão do gasto público no governo Lula foi dirigida exatamente para a incorporação das massas trabalhadoras ao consumo e ao mercado de trabalho. Hoje temos a menor taxa de desemprego do país nos últimos 13 anos. A inflação está dentro da meta estabelecida pelo Banco Central. A expectativa de vida dos brasileiros era, em 1990, de 69,9 anos. Hoje, é de 76,5 anos. O país precisa crescer e incorporar a maioria da população para o consumo e o bem estar. Somos 213 milhões de pessoas. 1% da população concentra mais de 60% da riqueza nacional. Isso é desumano, injusto e emperra o desenvolvimento do Brasil. Não há como mudar essa realidade sem a ação do poder público. O governo Lula ampliou as políticas públicas de apoio às famílias mais carentes de recursos materiais. Por outro lado, está desbaratando gigantescos esquemas de sonegação fiscal. Acaba de sancionar uma lei justa que zera o imposto de renda para quem ganha até 5 mil reais por mês, e suaviza o imposto para quem ganha até 7mil/mês. Na outra ponta acrescentou mais 10% de IR na alíquota dos mais ricos. Isso é justiça fiscal. Houve um retorno à política de reindustrialização do país com o vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin e o BNDES liderado por Aluísio Mercadante.
Lula e Fernando Haddad estão no caminho certo. Basta o Comitê de Política Monetária Nacional fazer a sua parte: reduzir, com responsabilidade, a taxa básica de juros do país. A chance de mudar essa trajetória da taxa de juros já tem data marcada: 9 e10 de dezembro.
*Jornalista. Instagram: @sergiocabral_filho