Por: Sérgio Cabral*

A Nova China

Shangai, China | Foto: Hanny Baibaho/Unsplash

Hoje faz um ano da morte de meu amado pai. Quanta saudade! Ser humano fora de série. Não por acaso morreu no dia da queda da Bastilha, o dia de celebração da revolução francesa, cujo lema foi "Liberdade, Igualdade e Fraternidade", nada mais semelhante à trajetória do meu velho pai.

Com ele aprendi a lutar pela democracia, admirar nossa cultura, ser antirracista e combater as injustiças.

Meu pai morreu há um ano e o mundo nesse período ficou mais tenso e confuso.

O governo do país mais poderoso do mundo ameaça a todos com taxações absurdas e despropositadas. Logo os Estados Unidos que se tornaram, em um século, o colosso econômico que são, muito pela liderança no comércio e na troca internacionais.

A Europa vive a tensão da guerra, em função da invasão da Rússia à Ucrânia. Uma barbaridade que já matou centenas de milhares de seres humanos dos dois países. A maior carnificina pós Segunda Guerra Mundial. Um desvario de Putin.

No Oriente Médio, o ódio e o terror não arrefeceram nesse último ano. Pelo contrário. O fundamentalismo religioso, base de inúmeros regimes autoritários, tem levado a brutalidade a níveis assustadores e desumanos.

Na África a fome e a miséria preponderam em inúmeros países. Ditaduras massacram milhões de seres humanos e exploram as riquezas naturais em benefício de seu status quo.

Na América Latina, a praga do narcotráfico e da violência assassina milhares de pessoas diariamente. O crime organizado domina bairros e cidades, se faz presente nas instituições de poder e acua o Estado Democrático de Direito.

Na Ásia há países ainda muito atrasados, com problemas gravíssimos. Mas é de lá que vêm nas últimas décadas a maior alavancagem na qualidade de vida de centenas de milhões de pessoas. A Índia tem crescido o seu produto interno bruto a níveis impressionantes. Hoje é a quarta maior economia do mundo. Passou o PIB japonês. Claro que per capita, ainda se trata de um desafio social e econômico.

Volto à memória de meu pai mencionar a China. Em meados dos anos 80 ele viajou como jornalista de O Globo com João Havelange, então presidente da FIFA, para um giro do grande dirigente brasileiro a países asiáticos. Cabral, meu velho pai, voltou impressionado com a China. Me disse que o país se transformaria numa grande potência. Durante meus governos, 2007-2014, pude fazer missões à China e constatar o quanto meu pai tinha razão.

Hoje, 14 de julho de 2025, tenho certeza que a China é o país com a melhor posição internacional. Detém poder bélico, tecnologia, indústria e serviços de ponta. Aumenta anualmente o poder aquisitivo de mais de bilhão de seres humanos. Tem uma política externa pacífica e aumenta com muita potência sua presença econômica global.

Qualquer dúvida, sugiro a leitura de "A Nova China", da economista chinesa Keyu Jin, editado pela Edipro. Chinesa que divide seu tempo entre o Ocidente e o Oriente, foi professora titular da London School of Economics por 15 anos. Trabalhou no Fundo Monetário Internacional e tem enorme prestígio acadêmico na China. Seu livro é fundamental para a nossa compreensão do hoje e do que está por vir. Infelizmente, sem a presença do meu amado pai.