Nessa última semana assistimos as cenas absurdas de violência no dia dia das duas maiores cidades brasileiras.
Em São Paulo, um ciclista foi assassinado por dois ladrões de celulares. O que mais nos chocou é que a vítima não esboçou nenhuma reação à tentativa do assalto. E assim mesmo foi morto por tiros à queima roupa pelo delinquente.
No Rio, a principal artéria da cidade, a Avenida Brasil, teve seu fluxo interrompido por força de tiroteios em bairros e comunidades que margeiam a via; com feridos e vítimas fatais. Na noite do último sábado, a audácia de marginais, levou ao fuzilamento da 60ª DP, em Duque de Caxias, para o resgate de chefes do bando que estavam detidos pela polícia civil.
No Norte e Nordeste as estatísticas são alarmantes. O número de homicídios por cem mil habitantes, em algumas cidades, chegam a superar Medellin e Bogotá, cidades colombianas, na pior fase da guerra contra os cartéis colombianos.
No Sul do país e no Centro-Oeste não é diferente o temor da população à violência e ao risco.
Os governos estaduais estão estrangulados na sua capacidade de resposta. Todos os estados, todos!, sem exceção, carecem de efetivo e condições materiais para enfrentar o crime organizado. Seus efetivos das polícias militares, civis e penais estão aquém do necessário para o combate e a investigação, carecem de mão de obra, armamento e tecnologia para o bom resultado.
As contas públicas estaduais estão asfixiadas.
O instituto de pesquisa, Prefab, aqui do Rio, acaba de realizar uma pesquisa em que a segurança pública é prioridade de metade da população do estado do Rio de Janeiro. Atenção! Do estado! A chaga da violência não afeta mais apenas a capital e as cidades da região metropolitana, mas de Varre e Sai, no noroeste fluminense, na divisa com o Espírito Santo, a Parati, no extremo sul litorâneo, na divisa com São Paulo.
Vi o depoimento do jornalista Márcio Gomes, da CNN Brasil, sobre dois fatos recentes de roubo e tentativa de roubo de seu celular e de sua mulher, o pavor que sua família experimentou nos últimos meses, assim como vi a jornalista da Globonews, Daniela Lima, descrever a paúra de usar o celular nas ruas da cidade de São Paulo ou dentro do carro.
Milhões de pessoas, hoje, no Brasil, vivem em bairros e comunidades onde o comportamento e as diretrizes de conduta são definidos pelo crime organizado. Onde a sua mobilidade é tutelada. O transporte é dominado pelo crime, o gás de botijão é dominado pelo crime, a luz é o "gato" do crime, a internet é o jeito trambiqueiro do crime, a tv a cabo idem, o horário de sair na rua também, a "taxa de segurança" tem que ser paga por moradores e comerciantes, e a própria vida ou morte de muitos é decidida pelo crime.
O país não aguenta mais! E os estados não darão conta sozinho do enfrentamento às organizações crriminosas. Elas cresceram, se armaram até os dentes, têm conexões nos países vizinhos e com gângsters da Europa, da América do Norte e da Ásia.
Minha experiência, como governador, me impõe destacar que não haverá políticas públicas efetivas no país sem a garantia do ir e vir dos brasileiros. Todas elas dependem de segurança e paz.
Junto com o presidente Lula, durante 4 anos em que realizava seu segundo mandato e os meus 4 iniciais, 2007-2010, realizamos uma série de parcerias importantes no reforço da segurança pública.
O Ministro da Justiça, Ricardo Lewandowisk, tem demonstrado foco na montagem de parcerias com os estados. No aprofundamento da troca de informações e na qualificação do combate ao crime organizado. Mas, creio, ao esforço de Lewandowisk devem se somar os ministérios do Planejamento e da Fazenda. "Paisagem é verba", a frase do intelectual Otto Lara Resende (1922-1992) cabe perfeitamente na premissa do combate ao crime organizado. Os estados não têm capacidade financeira para enfrentar o crime organizado. Há limitações orçamentárias. Há que se ter uma forma de garantir a expansão das forças policiais sem afetar a Lei de Responsabilidade Fiscal. Para isso é necessário sair da bolha do risco fiscal e caminharmos para a solução do risco de vida de milhões de pessoas no Brasil.
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@sergiocabral_filho