Por: Sérgio Cabral*

A chaga da violência

Passageiros do metrô se jogam no chão durante tiroteio no Rio | Foto: Reproduções de redes sociais

Nessa última semana assistimos as cenas absurdas de violência no dia dia das duas maiores cidades brasileiras.

Em São Paulo, um ciclista foi assassinado por dois ladrões de celulares. O que mais nos chocou é que a vítima não esboçou nenhuma reação à tentativa do assalto. E assim mesmo foi morto por tiros à queima roupa pelo delinquente.

No Rio, a principal artéria da cidade, a Avenida Brasil, teve seu fluxo interrompido por força de tiroteios em bairros e comunidades que margeiam a via; com feridos e vítimas fatais. Na noite do último sábado, a audácia de marginais, levou ao fuzilamento da 60ª DP, em Duque de Caxias, para o resgate de chefes do bando que estavam detidos pela polícia civil.

No Norte e Nordeste as estatísticas são alarmantes. O número de homicídios por cem mil habitantes, em algumas cidades, chegam a superar Medellin e Bogotá, cidades colombianas, na pior fase da guerra contra os cartéis colombianos.

No Sul do país e no Centro-Oeste não é diferente o temor da população à violência e ao risco.

Os governos estaduais estão estrangulados na sua capacidade de resposta. Todos os estados, todos!, sem exceção, carecem de efetivo e condições materiais para enfrentar o crime organizado. Seus efetivos das polícias militares, civis e penais estão aquém do necessário para o combate e a investigação, carecem de mão de obra, armamento e tecnologia para o bom resultado.

As contas públicas estaduais estão asfixiadas.

O instituto de pesquisa, Prefab, aqui do Rio, acaba de realizar uma pesquisa em que a segurança pública é prioridade de metade da população do estado do Rio de Janeiro. Atenção! Do estado! A chaga da violência não afeta mais apenas a capital e as cidades da região metropolitana, mas de Varre e Sai, no noroeste fluminense, na divisa com o Espírito Santo, a Parati, no extremo sul litorâneo, na divisa com São Paulo.

Vi o depoimento do jornalista Márcio Gomes, da CNN Brasil, sobre dois fatos recentes de roubo e tentativa de roubo de seu celular e de sua mulher, o pavor que sua família experimentou nos últimos meses, assim como vi a jornalista da Globonews, Daniela Lima, descrever a paúra de usar o celular nas ruas da cidade de São Paulo ou dentro do carro.

Milhões de pessoas, hoje, no Brasil, vivem em bairros e comunidades onde o comportamento e as diretrizes de conduta são definidos pelo crime organizado. Onde a sua mobilidade é tutelada. O transporte é dominado pelo crime, o gás de botijão é dominado pelo crime, a luz é o "gato" do crime, a internet é o jeito trambiqueiro do crime, a tv a cabo idem, o horário de sair na rua também, a "taxa de segurança" tem que ser paga por moradores e comerciantes, e a própria vida ou morte de muitos é decidida pelo crime.

O país não aguenta mais! E os estados não darão conta sozinho do enfrentamento às organizações crriminosas. Elas cresceram, se armaram até os dentes, têm conexões nos países vizinhos e com gângsters da Europa, da América do Norte e da Ásia.

Minha experiência, como governador, me impõe destacar que não haverá políticas públicas efetivas no país sem a garantia do ir e vir dos brasileiros. Todas elas dependem de segurança e paz.

Junto com o presidente Lula, durante 4 anos em que realizava seu segundo mandato e os meus 4 iniciais, 2007-2010, realizamos uma série de parcerias importantes no reforço da segurança pública.

O Ministro da Justiça, Ricardo Lewandowisk, tem demonstrado foco na montagem de parcerias com os estados. No aprofundamento da troca de informações e na qualificação do combate ao crime organizado. Mas, creio, ao esforço de Lewandowisk devem se somar os ministérios do Planejamento e da Fazenda. "Paisagem é verba", a frase do intelectual Otto Lara Resende (1922-1992) cabe perfeitamente na premissa do combate ao crime organizado. Os estados não têm capacidade financeira para enfrentar o crime organizado. Há limitações orçamentárias. Há que se ter uma forma de garantir a expansão das forças policiais sem afetar a Lei de Responsabilidade Fiscal. Para isso é necessário sair da bolha do risco fiscal e caminharmos para a solução do risco de vida de milhões de pessoas no Brasil.

*Jornalista.Instagram:

@sergiocabral_filho