Por: Rudolfo Lago

CORREIO POLÍTICO | Com o Banco Central, com tudo: crise nos três poderes

Risco é de quebra da credibilidade do Banco Central | Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Na última hora, o ministro do Supremo Tribunal Federal Dias Toffoli recuou e não fará a acareação entre o dono do Banco Master, Daniel Vorcaro, o ex-presidente do Banco de Brasília (BRB) Paulo Henrique Costa, e o diretor do Banco Central Aílton de Carvalho. Adia-se, assim uma crise anunciada. Uma crise, porém, que ainda não terminou, como comenta o cientista político André Cesar: "Não me lembro de antes ter visto uma crise que afeta dessa forma ao mesmo tempo todos os três poderes". A acareação ainda pode acontecer em outro momento. O grande risco de toda essa investigação é que ela pode colocar em xeque o papel do Banco Central como autoridade monetária.

 

Risco sistêmico

Observador atento tanto da cena política em Brasília como do mercado financeiro, André Cesar teme que o desenrolar da crise do Banco Master leve a um "risco sistêmico". Ou seja, uma situação na qual desmorone toda a confiança na forma como hoje se organiza a economia, a fiscalização dos bancos e a responsabilização de seus diretores. O problema que pode emergir de toda essa história decorre da autoridade do Banco Central.

Vista grossa do Banco Central

Outras instituições atuavam como o Master? | Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

É descobrir que o Banco Central, como autoridade monetária, pode ter feito vista grossa para os riscos imensos das operações do Banco Master. E a partir do Banco Central, também todo o sistema dos bancos, seus mecanismos de defesa, como o fundo garantidor. Ou seja, todo mundo sabia que as operações eram extremamente arriscadas. Que elas davam grande lucro caso dessem certo. E que o fundo garantidor seguraria prejuízos eventuais até o seu limite. A partir disso, se teria autorizado uma grande farra especulativa.

Peças do dominó

As peças do dominó vão caindo envolvendo poder Executivo, o mundo político e chegando até o Judiciário, com acusações de promiscuidade nas relações que ainda repercutem. O caso do voo compartilhado entre Toffoli e um advogado do Master para uma partida de futebol. O contrato milionário do escritório da esposa de Alexandre de Moraes, Viviane Barci.

Bate no DF

Bate, então, no Distrito Federal, com a história da tentativa de compra do Master pelo Banco de Brasília (BRB), situação que afastou da gestão do banco Paulo Henrique Costa. Mas quais os interesses políticos por trás dessa tentativa de compra? Interesses do governador, Ibaneis Rocha (MDB)? De outros políticos?

Outros casos

Segundo André, o temor no mundo financeiro seria descobrir que o modus operandi do Master poderia não ser somente uma atitude isolada do "tamborete" de Vorcaro que, com sua ousadia, foi crescendo. Outras fintechs poderiam estar operando de forma semelhante, com o mesmo risco.

Cacciola

André Cesar recorda-se da situação semelhante ocorrida com o Banco Marka, do banqueiro ítalo-brasileiro Salvatore Cacciola. Os crimes cometidos por Cacciola contra o sistema financeiro foram motivo de investigação da CPI do Sistema Financeiro, que apurou a ajuda dada pelo governo ao banco.

CPI

À época, o escândalo motivou a criação da CPI dos Bancos, ou do Sistema Financeiro. Ao final, o volume de situações envolvendo grande parte dos principais bancos do país e autoridades produziu um freio que segurou responsabilizações. Agora, fala-se de novo na possibilidade de uma CPI para apurar a crise do Banco Master.

"Que se quebre"

No sábado (27), as deputadas Fernanda Melchiona (Psol-RS) e Heloísa Helena (Rede-RJ) protocolaram a criação de uma nova "CPI dos Bancos" para investigar o caso Master. "As denúncias criam uma rede monstruosa de promiscuidades diversas", comenta Heloísa Helena. "Quem for podre, que se quebre".

 

Banco Central

Na segunda-feira, a Confederação Nacional dos Servidores Públicos (CNSP) divulgou uma nota em defesa da "independência técnica e operacional do Banco Central". Uma situação de total desconfiança na forma como se gere o sistema é uma situação de total desconfiança no país. É o "risco sistêmico".