Por: POR RUDOLFO LAGO

CORREIO POLÍTICO | Valdemar torce pela briga

Valdemar Costa Neto | Foto: Marcello Casal Jr / Agência Brasil

As projeções feitas pelo PL confirmam o que publicou o Correio da Manhã na semana passada, com base nas pesquisas mais recentes em cada estado. O PL pode sair forte das urnas de outubro do ano que vem, elegendo até oito governadores e até 16 senadores. Pelas projeções do partido, porém, deverá diminuir na Câmara: elegeu 99 deputados, hoje tem 87 e deverá eleger em torno de 80. Tudo isso, porém, se o caldo não desandar até outubro de 2026. E essa é a grande preocupação do presidente do PL, Valdemar Costa Neto. E, para ele, essa chance de o caldo desandar está diretamente relacionada à candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) à Presidência, ungida por seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Nome de Valdemar é Michelle

As mesmas pesquisas internas fazem de Michelle Bolsonaro o nome preferido de Valdemar. Ela planejava um grande ato no Rio de Janeiro, onde, esperava-se, ela seria aclamada pela militância feminina do PL. As ações em favor de Flávio frearam toda a disposição eleitoral de Michelle. Bolsonaro não quer de forma alguma sua esposa como herdeira do espólio presidencial da família. E boa parte do movimento teve esse objetivo de freá-la.

Presidente do PL espera reações

O baque foi tão forte que não apenas o evento foi cancelado. Michelle pediu licença médica e afastou-se temporariamente do PL. Fez um pronunciamento natalino no qual fala de "traições" (não se sabe exatamente de quem). Toda essa situação faz Valdemar Costa Neto não ter outra opção no momento senão torcer pela briga. Não uma briga entre Michelle e a família Bolsonaro. Mas uma reação política interna e no campo conservador que provoque um freio de arrumação que demova a candidatura de Flávio e obrigue novos arranjos.

Flávio inibiu Tarcísio

O lançamento de Flávio, mostraram as pesquisas, inibiu o crescimento do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Mas Flávio tem uma rejeição que ultrapassa os 60%. Ou seja, não parece um nome capaz de vencer o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em um segundo turno. O temor de Valdemar, então, é que a indefinição do campo conservador provoque desânimo. 

Pragmáticos

O desânimo poderia atacar o campo mais pragmático - que é o campo original do PL. Um desânimo que produza movimentos de enfraquecimento dessas chances, facilitando a vida de Lula na tentativa de reeleição. Mesmo o próprio Flávio, acredita-se, pode acabar mais à frente desistindo da candidatura.

Foro

Flávio poderia desistir diante de uma expectativa bem mais fácil de se reeleger senador. Seu irmão, Eduardo, foi cassado, perdeu o mandato e responde a ação no STF. Flávio também vai precisar de foro especial. Valdemar precisa conseguir arrumar todo esse meio de campo dentro do PL até abril e maio.

Choque

Em junho, acontecem as convenções partidárias. E é preciso haver uma segurança do quadro político para definir bem as candidaturas e conseguir ser de fato competitivo em outubro. Assim, ele, no momento, aposta nas reações políticas para que elas provoquem um choque de realidade no clã Bolsonaro.

Pela culatra

A manutenção da aposta no sobrenome pode, na verdade, jogar por terra o projeto da direita, no eventual quarto mandato de Lula. Se a opção por Flávio Bolsonaro é uma reação do clã para seguir mantendo o controle do campo da direita, o tiro pode sair pela culatra. A direita poderá precipitar outros planos e deixar Bolsonaro à deriva.

Agora ou depois

Isso pode já acontecer em 2026. Mas, se Lula for reeleito, com mais probabilidade acontecerá depois. Um cenário sem Lula e Bolsonaro projeta um tempo de novas oções políticas fora dessa polarização. E junto com o derretimento de Bolsonaro, pode também derreter junto também o próprio PL.

Referência

O plano de Valdemar era fazer do PL a grande referência conservadora do país. Abrigando ali a extrema-direita bolsonarista e dialogando com a centro-direita mais pragmática. Precisa evitar que o radicalismo afaste os dois campos. Diante do risco, Valdemar torce pela briga agora.