O quadro com o panorama das eleições nos estados para governador e senador traz tanto alertas como alentos para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e para o Supremo Tribunal Federal (STF) no momento em que se avizinha uma possível intensificação no ano que vem da disputa entre os poderes. As investigações que vêm sendo feitas a mando do ministro do STF Flávio Dino sobre irregularidades no uso de emendas ao orçamento e cotas de gabinete pelos parlamentares acirram a crise na República. E podem pegar também o governo, porque muitos deputados e senadores desconfiam que possa haver o dedo dele nas apurações - já que Dino foi seu ministro da Justiça.

A razão das dores de cabeça é que o PL do ex-presidente Jair Bolsonaro irá crescer. Mas talvez não cresça o suficiente para obter no Senado a maioria que desejava para aprovar impeachment de ministros do Supremo. Porque tudo dependerá também de outros partidos do campo conservador que também deverão eleger grande número de senadores.A começar por União Brasil e PP, agora unidos em federação.

Quando formaram a União Progressista, os dois partidos disseram que iam fazer oposição a Lula. Mas o PP não entregou seu ministério e a presidência da Caixa. E o União, depois de expulsar Celso Sabino dos seus quadros, agora quer o Ministério do Turismo de volta, indicando um possível recuo. Com que disposição virão, então, os possíveis sete senadores do PP e os eventuais cinco do União? E como se comportarão os oito possíveis nomes eleitos para o Senado pelo PSD de Gilberto Kassab? Ele irá para a oposição? Ficará no governo?

No caso dos riscos para o Supremo, o que pode acontecer é que o grau de insatisfação ultrapasse uma questão governo/oposição para virar uma defesa corporativa. No momento, as investigações movidas a pedido de Flávio Dino já teriam como alvo mais de 30 parlamentares. De variados partidos. No Congresso, repete-se que ele se move contra algo que teria virado prática generalizada.

O risco, então, está numa possível união do Centrão, que reúne os insatisfeitos com as apurações de Dino, para articular uma reação. Como já dissemos por aqui, não é por outra razão que o presidente do STF, Edson Fachin, tenta articular a criação de um código de ética para os tribunais superiores.

Fachin sabe que amplificada a insatisfação do Congresso com a atuação do Supremo, vai se amplificar também a busca pelos esqueletos da Corte. E Fachin sabe que eles existem. É a partir desses esqueletos que pode se consolidar a argumentação para um eventual processo de impeachment.

De qualquer modo, o quadro das pesquisas aponta também para alguns alentos para o governo. No Rio Grande do Sul, por exemplo, estado que nos últimos anos tornou-se majoritariamente conservador, a ex-deputada Manuela D'Ávila (Psol) aparece com boa chance de se eleger senadora.

Em São Paulo, onde Tarcísio de Freitas (Republicanos) lidera para o governo, caso não saia para presidente, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, lidera para o Senado caso entre nessa disputa. Ele aparece com mais intenções de voto que o ex-deputado Eduardo Bolsonaro (PL), que poderia vir a ficar com a segunda vaga.

Eduardo Bolsonaro foi cassado pela Câmara por faltas. Nessa hipótese, ele não perde, então, os direitos políticos. Isso se não vier a ser condenado pelo Supremo, já que há uma ação aberta contra ele por suas ações na tentativa de fazer com que o governo Donald Trump pressionasse a justiça brasileira.

E alguns estados do Nordeste continuam mostrando a força do governo. Em Pernambuco, onde deve ser eleito governador o prefeito do Recife, João Campos (PSB), lidera para novo mandato o senador Humberto Costa (PT). O ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT) é nome cotado para uma vaga na Bahia.