Por: POR RUDOLFO LAGO

CORREIO POLÍTICO | O calvário de Messias

Messias sabe que o problema não é exatamente ele | Foto: José Cruz/Agência Brasil

O advogado-geral da União, Jorge Messias, sabe que o problema não é ele. Desde que passou a exercer o cargo, não foram raras as vezes em que ele foi acionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para mediar questões políticas com a bancada evangélica, por conta da sua inclinação religiosa (Messias é da Igreja Batista Cristã de Brasília). Na sua grande maioria, a bancada evangélica é formada por parlamentares conservadores, que fazem oposição a Lula. Ou seja, Messias tem bom trânsito junto a essa bancada. Mas, apesar das boas relações, a oposição sentiu o cheiro de sangue na floresta. Provavelmente rejeitaria a indicação do advogado-geral da União para o Supremo Tribunal Federal (STF) se sua sabatina fosse mantida.

 

Sem razões

E isso se daria não porque a oposição tem alguma crítica específica sobre Messias ou sobre seu comportamento no governo. Nesse ponto, muito piores seriam as avaliações que a oposição teria de Flávio Dino ou Cristiano Zanin, por suas atuações pretéritas.

Oportunidade

A situação tornou-se uma rara oportunidade de imprimir ao governo uma das suas maiores derrotas. Já se passaram mais de cem anos da última vez que o Senado rejeitou uma indicação para o STF. Em 1894, Floriano Peixoto viu os senadores rejeitarem cinco indicações.

Lula igualado a Floriano Peixoto, que perdeu cinco

Lula terá que desfazer o bico de Alcolumbre | Foto: Lula Marques/Agência Brasil

Mas a situação política era muito diferente. Floriano Peixoto governou praticamente todo o tempo em Estado de Sítio. E, em pelo menos uma das indicações, era claro que o indicado não preenchia os requisitos necessários. Cândido Barata Ribeiro, um dos rejeitados, era médico, e não jurista. Não tinha, portanto, o "notório saber jurídico". Jorge Messias é da carreira da Advocacia-Geral da União e ex-procurador da Fazenda Nacional. Tem o "notório saber jurídico", tem mais de 35 anos de idade e, até prova em contrário, a tal "reputação ilibada". Preenche, assim, os requisitos técnicos da indicação, que deveria ser o que o Senado analisaria.

Relacionamento

Por trás de tudo, problemas políticos no relacionamento do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) com o governo. Associados aos compromissos que Alcolumbre firmou com seu antecessor na presidência do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Corda esticada

A situação toda, porém, foi levando a uma situação de corda esticada ao máximo. Lula não teria como recuar agora da indicação de Messias. E certamente já não mais indicaria Pacheco. Ou seja, Alcolumbre derrotaria Lula. Mas acabaria também derrotado naquilo que deseja.

Conversa

Assim, o que Messias agora espera é que Lula seja capaz de reverter o quadro após uma boa conversa com Davi Alcolumbre. A essa altura, depende muito menos do advogado-geral da União angariar ou não mais senadores simpáticos a ele. Depende de Lula.

Estratégia

Messias pretende manter a sua estratégia de buscar os senadores. Ele já conversou com mais da metade deles. Mas precisa fazer isso com o máximo de cuidado. Não pode passar a impressão de que seus movimentos sejam uma afronta a Alcolumbre. Tudo muito delicado.