Por: POR RUDOLFO LAGO

CORREIO POLÍTICO | Bolsonaro fará política da prisão, como Lula em 2018?

Como com Lula, bolsonaristas na frente da sede da PF | Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Já usamos essa imagem por aqui. A relação entre o ex-presidente Jair Bolsonaro e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lembram muito um mito do folclore alemão: o "doppelgänger", ou "duplo andante". Por essa mitologia, todos nós teríamos uma cópia espectral, com todas as nossas características ao avesso. Se alguém é intensamente bom, seu "doppelgänger" será totalmente mau. E assim por diante. Dizem que se alguém se encontrar com seu "duplo andante" terá má sorte. Em termos políticos, em muitos momentos Bolsonaro parece fazer essa cópia ao inverso, essa imagem espelhada de Lula. Quem é bom ou mau nessa história, fica para cada torcida. Preso agora, Bolsonaro novamente parece espelhar a experiência de Lula.

 

Prisão

Como primeiro aspecto desse espelhamento, Alexandre de Moraes tratou de colocar Bolsonaro numa sala de Estado Maior na sede da Polícia Federal, em Brasília, com características bem semelhantes daquela em que Lula ficou preso em Curitiba.

Política

Experiente integrante do Centrão, o deputado Pauderney Avelino (União Brasil-AM), disse agora esperar que Bolsonaro, da sede da PF em Brasília, aja politicamente da mesma forma como fez Lula em 2018, da sede da PF em Curitiba: conduza de lá o processo político.

Lula passou imagem de força. Bolsonaro a de frágil

Lula vendeu uma imagem de saúde quando deixou a prisão | Foto: Ricardo Stuckert

Mas o problema, talvez, para essa expectativa de Pauderney Avelino, esteja exatamente no fato de que a cópia é um espelho. Lembra ao Correio Político um aliado de Lula que o tempo todo ele tratou de demonstrar na prisão uma preocupação com sua saúde física. Pediu, por exemplo, para que fosse instalada na sala em que ficou uma esteira ergométrica. Quando saiu, posou para a foto que ficou famosa vestindo uma sunga, para mostrar seu preparo físico perto dos 80 anos. Aos 70 anos, porém, Bolsonaro passa na prisão um quadro de debilidade física. Tem crise de soluços. Afirma ter tentado abrir sua tornezeleira em meio a um surto.

Condução

Pauderney imagina um quadro no qual Bolsonaro, como fez Lula, receba interlocutores na prisão e, dessa forma, oriente o processo de escolha do candidato da oposição que irá concorrer às eleições de 2026. No desejo, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.

Sem a família

No desejo de Pauderney, sem nenhum integrante da família na chapa de Tarcísio. Ou seja, o mundo dos sonhos do Centrão. O apoio para obter os votos bolsonaristas, sem o cabresto. Algo que o vereador Carlos Bolsonaro (PL) reage como sendo "a entrega do espólio".

Saúde

Há, portanto, de saída uma resistência do clã. Mas tudo pode se agravar com a questão da saúde, como já dissemos por aqui. A calibragem errada desse processo fará Bolsonaro perder as condições de liderar qualquer processo, por falta de confiança que venha a passar.

Heleno

Nesse sentido, em nada ajudou o general Augusto Heleno apresentar laudos dizendo que tem Alzheimer desde 2018. Significa dizer que, durante todo o governo, Bolsonaro entregou a alguém com problemas de senilidade o comando da inteligência do país.