É bem paradoxal o comportamento do Congresso. A direita tem ampla maioria, e a todo momento faz questão de mostrar isso ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de esquerda. Mas, vez por outra, parece ter vergonha de si mesmo. Só isso explica a estratégia da Câmara de deixar para aprovar as novas regras de licenciamento ambiental no meio da madrugada, às 2h30 da manhã. Se tinha ampla maioria e se julga representar a vontade da maioria do eleitor brasileiro, por que não fez a votação à tarde, quando todos poderiam acompanhar? Se a ideia era num primeiro momento esconder, no Correio da Manhã não deu certo. O jornal foi o único a esperar e publicar a notícia em tempo ainda na primeira página das edições Nacional e DF.

Ainda que a média do brasileiro seja conservadora, talvez o atual Congresso seja mais conservador que ela. O PT aposta na possibilidade de explorar essa contradição nas eleições de 2026. O risco de obter um Congresso ainda mais hostil que o atual é a maior preocupação.

O cenário eleitoral da pesquisa Quaest, divulgado na quinta-feira (17), mostra o resultado político da recuperação que Lula teve na popularidade. Ele descolou-se dos adversários, e é o favorito para a reeleição contra qualquer adversário, mesmo contra Jair Bolsonaro, inelegível.

Embora Edinho Silva já tenha sido eleito, na prática ele só deverá tomar posse mesmo da presidência do PT por setembro. Até lá, segue presidente o senador Humberto Costa (PE). Que presidiu também o Grupo de Trabalho das Eleições (GTE) do partido, hoje nas mãos do líder do governo na Câmara, José Guimarães (CE). Humberto tem vontade de retornar ao GTE. Para, no que vem defendendo, construir alianças "pragmáticas" em cada estado. Para evitar um cenário que pode ser muito complicado para Lula: reeleger-se com uma minoria no Congresso ainda maior. Se hoje já é para ele uma dificuldade governar, pode ficar mais complicado.

Um mapa das situações eleitorais em cada estado vem sendo construído pelo PT. Mas esse trabalho está atrasado, e um pouco parado. Até pelas questões de saúde de José Guimarães, que irá se submeter a uma cirurgia cardíaca nos próximos dias em São Paulo.

Na avaliação de Humberto, o PT deve considerar alianças mesmo à centro-direita para o Senado. Até porque essa atração do centro é que planeja fazer o grupo bolsonarista, para tentar obter ali a maioria para aprovar processos de impeachment contra ministros do Supremo.

Algumas pesquisas vão refinando cenários em alguns lugares. O levantamento do Instituto Opinião divulgado na quarta (16) sobre o Distrito Federal mostra as chances da senadora Leila Barros (PSB) para a reeleição, em empate com o governador Ibaneis Rocha (MDB).

Outro caminho é a dobradinha Renan Calheiros (MDB) e João Henrique Caldas (PL) em Alagoas. Essa costura envolveu a nomeação da tia de JHC, como é conhecido, para o Superior Tribunal de Justiça (STF). O problema aí é o deputado Arthur Lira (PP). Falaremos mais disso.