A Ferrogrão, projeto de ferrovia de mais de 900 km que sai da cidade de Sinop, no Mato Grosso, e vai até o Porto de Mirituba, no Pará, é uma das mais importantes obras previstas no Plano de Aceleração do Crescimento (PAC). No momento em que o governo tenta acentuar um discurso de que está do lado dos mais pobres contra os mais ricos, que seriam privilegiados, segundo o discurso, pelo Congresso, ela expõe alguns desses dilemas. Especialmente no que diz respeito à política ambiental e às populações diretamente envolvidas. A ferrovia passa por dentro de áreas indígenas.
O Instituto Kabu – que representa 18 comunidades indígenas que vivem na região, e é presidido por Doto Takak Ire, sobrinho do cacique caiapó Raoni – entrou com uma Ação Civil Pública, juntamente com o Centro Santo Dias de Direitos Humanos, contra a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
A ANTT e o Ministério dos Transportes, segundo a ação, querem levar adiante a concessão para a construção da Ferrogrão sem fazer a consulta prévia aos povos originários afetados, como dispõe a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da qual o Brasil é signatário. A ação pede que o Tribunal de Contas da União suspenda o processo até que seja feita a consulta prévia. Além disso, pede uma indenização de R$ 1,7 bilhão por dano moral coletivo. O Ministério Público Federal ingressou voluntariamente como parte autora, apoiando o pedido.