Manhã de quarta-feira (12) no Senado Federal. A presidente da Comissão de Direitos Humanos (CDH), Damares Alves (Republicanos-DF) dá início à sessão. Onze senadores estão presentes. Todos do campo da direita. Logo em seguida, ela aprova, então, por unanimidade, requerimento do senador Eduardo Girão (Novo-CE) que determina a visita de uma comissão de parlamentares ao presídio da Papuda para fazer uma inspeção sobre as condições de tratamento que estão sendo dadas aos presos por envolvimento na invasão e na depredação das sedes dos três poderes no dia 8 de janeiro de 2023. Damares está à frente de uma comissão que sempre esteve nas mãos da esquerda. E começa ali uma impressionante inversão do discurso.

Os mesmos termos e estratégias que a esquerda sempre usou passam agora a ser adotados pela direita. É parte importantíssima do plano até 2026. Dali, sairá grande parte do contraponto imaginado para o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no STF.

Impressionou como termos sempre usados pela esquerda se incorporaram. Eduardo Girão afirma que os preços estão sendo submetidos a "condições sub-humanas" e "tortura". Damares criticou o Comitê de Combate à Tortura do Ministério dos Direitos Humanos.

Até então, na avaliação de Damares, a Comissão de Direitos Humanos, nas gestões anteriores, estava bem esvaziada. Claramente, ela apostou que isso faria com que a esquerda seguisse não prestando grande atenção nela. Assim, obteve na reunião a unanimidade para aprovar o requerimento de Girão. Sua intenção ali será "aprovar tudo", sem pruridos. Deverá, portanto, ser o caminho por onde mais avançará a ideia de anistia aos condenados pelo 8/01, que, na prática, é a porta para obter uma anistia de Bolsonaro de modo a recolocá-lo no páreo. Damares busca ainda emplacar um discurso de defesa de direitos humanos na língua conservadora.

É um pouco repetir a linha que adotou como ministra de Bolsonaro. É um discurso que cola junto à população feminina das classes mais baixas. Mulheres - muitas chefes de família - vítimas de violência doméstica. Hoje a maioria evangélicas, como a própria Damares.

Há uma avaliação de que poderá ser por esse filão, aliado à questão da segurança pública, o caminho que a direita deverá seguir para disputar o posto hoje ocupado por Luiz Inácio Lula da Silva. Há uma avaliação de que seguir colado a Donald Trump pode ser um tiro no pé.

Avaliava-se que o retorno de Trump ao governo nos EUA ajudaria a alavancar por aqui a direita. Mas a guerra tarifária que Trump vai empreendendo afeta os interesses nacionais. Cogita-se agora reduzir a aproximação com ele, uma vez que seu discurso atrapalha.

Ficou claro no que a direita comenta ter sido o maior acerto do novo responsável pela comunicação do governo, Sidônio Palmeira. O boné com a frase "O Brasil é dos Brasileiros" deu um nó no discurso da direita, que reagiu e pagou recibo. A estratégia vai mudando.