Se a escolha de Gleisi Hoffmann para a Secretaria de Relações Institucionais reforça a presença do campo mais à esquerda do PT, há dentro do governo um contraponto importante que mantém fortes as conexões mais ao centro e mesmo com o campo mais conservador, de direita, da sociedade. Esse contraponto é o vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin. No fundo, Gleisi e Alckmin ajudam a definir o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Suas conexões se dão muito mais pelo campo afetivo, da amizade e da confiança, do que propriamente pelo campo ideológico. Lula confia em Gleisi. E, desde a aproximação para ganhar as eleições em 2022, aprendeu a gostar e a confiar em Alckmin.

Na avaliação de uma pessoa próxima do vice-presidente, Alckmin, nas funções que exerce, no governo, seria a manutenção da "aliança em curso". Ou seja, se Alckmin uniu-se a Lula para ampliar suas chances ao centro e à direita, essa necessidade continua vital.

Foi por essa razão que Geraldo Alckmin foi escolhido para conduzir e ser o porta-voz das decisões do governo para baixar o preço dos alimentos. Diversos outros ministros envolvem-se. Mas é Alckmin quem fala com o setor produtivo. E o meio conservador não reage.

O perfil mais discreto e colaborativo de Alckmin ajudou a fortalecer a relação com Lula. Alckmin é o vice-presidente mais próximo das características que fizeram Marco Maciel, o vice de Fernando Henrique Cardoso, ser considerado o vice-presidente perfeito. Ele não costuma buscar destaque além das suas funções. Não alimenta críticas a Lula e ao governo. E coloca-se sempre à disposição para as tarefas que o presidente destina a ele. Depois de todas as rusgas e desconfianças vistas nos governos anteriores, entre Dilma Rousseff e Michel Temer e entre Jair Bolsonaro e Hamilton Mourão. O que se comenta é que desfaz fumaça de intriga.

Sugerida pelo hoje ministro do Empreendedorismo, Márcio França, a aliança de Lula com Alckmin visava mesmo a aproximação com o campo conservador. E é ele quem segue nessa mediação. Ajudou, por exemplo, a desfazer reações dos prefeitos à reforma tributária.

Um aspecto que surpreendeu Lula e outros no entorno do Planalto no início foi o bom humor de Alckmin. Inicialmente, imaginava-se dele um perfil sisudo. O clássico, como ficou conhecido, "picolé de chuchu". Mas encontraram alguém muito engraçado.

Do interior de São Paulo, de Pindamonhangaba, Alckmin é um ótimo contador de "causos", bem na linha sertaneja de nomes como Rolando Boldrin, também do sertão paulista, de São João da Barra. Histórias que não seriam boas com outros ficam engraçadas com Alckmin.

O vice acabou conseguindo levar esse bom humor para o estilo das suas redes sociais. Os cards com tiradas bem humoradas sobre as ações do governo têm sido compartilhados pelos demais ministros. O vice tem sido hábil em outro ponto: evitar o terrível ciúme político.