Por: POR RUDOLFO LAGO

CORREIO POLÍTICO | Gleisi pode ter sido carro na frente dos bois

Gleisi: opção por 2026 garante caminho em 2025? | Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

As diferenças internas no PT e no governo entre o que se batizou de "Turma de Curitiba" e "Turma de São Bernardo" refletem-se no debate sobre a escolha da deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR) para a Secretaria de Relações Institucionais da Presidência. Dona hoje do entorno do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a "Turma de Curitiba" aplaude a escolha. Escanteada do espaço que teve nos primeiros dois governos de Lula, a "Turma de São Bernardo" no mínimo tem dúvidas sobre se a escolha foi acertada. Mais uma vez, porém, a opção por Gleisi aponta o quanto é diferente o perfil do terceiro governo de Lula em comparação com os dois primeiros. Nomes que foram importantes conselheiros agora têm tido pouco acesso a Lula.

 

Curitiba

A "Turma de Curitiba" é formada por aqueles que mais se solidarizaram com Lula durante o período da sua prisão na sede da Polícia Federal em Curitiba. Gleisi é uma das mais claras expressões desse grupo. Do qual faz parte também o ministro da Casa Civil, Rui Costa.

São Bernardo

A "Turma de São Bernardo" são aqueles que fundaram com ele o PT. Nomes como José Dirceu, Luiz Dulci, Gilberto Carvalho. Alguns se desgastaram no passado e tentar retornar, como Dirceu. Outros somente andam mais afastados do mundo da política.

Antes de pensar em 2026, Lula deveria pensar em 2025

Um ambiente de cordialidade entre Lula e Tarcísio de Freitas marcou o lançamento do edital para a construção do túnel submerso Santos-Guarujá. O presidente enfatizou que o governador está "fazendo história" com os projetos conjuntos e defendeu o diálogo como uma ferramenta fundamental para superar os desafios do país, mesmo entre políticos de diferentes espectros ideológicos. | Foto: Ricardo Stuckert / PR

Um outro desses fundadores do PT em 1980 comenta que o raciocínio que levou Lula a escolher Gleisi para as Relações Institucionais parece colocar o carro na frente dos bois. Diante da falta de segurança quanto a vir a ter o apoio dos partidos do Centrão para 2026, Lula optou por colocar em seu entorno alguém da sua estrita confiança. Concluiu que, talvez, um ministro do Centrão poderia vir a fazer a articulação não necessariamente para o governo, mas para o seu grupo. Gleisi daria essa garantia de fidelidade. O problema: ela é capaz de angariar apoio para a pauta que precisa no Congresso? 2026 depende de agora.

 

Apoio

Assim, Lula deveria basear a lógica em torno do seu ministério em garantir a base mais ampla de apoio que lhe garanta os votos necessários no Congresso. Fazer um bom governo até 2026 depende de garantir tal tranquilidade no Parlamento. E ter o que apresentar ao eleitor.

Fidelidade

A escolha parece ter se baseado na falta de confiança quanto à fidelidade desses partidos. Mas não tê-los no governo na proporção da ampla aliança formada para garantir a eleição em 2022 tende a apenas aumentar essa falta de compromisso de fidelidade. E afastá-los.

Raquel Lyra

Na segunda-feira (10), a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, filia-se ao PSD. Esse tende a ser o caminho também dos outros dois governadores do PSDB, Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, e Eduardo Riedel, do Mato Grosso do Sul. Mais força política ao PSD.

Pragmático

O Centrão é pragmático. E o PSD o suprassumo do pragmatismo. Não farão juras de fidelidade a Lula desde agora, independentemente de resultados. Mas também não anteciparão rompimentos. Mas, quanto menor o comprometimento, mais chance de outro caminho.