O ministro da Controladoria Geral da União (CGU), Vinicius Marques de Carvalho, reagiu ao relatório da Transparência Internacional que aponta para um aumento na percepção da sociedade de que há corrupção no país dizendo que ele seria "conversa de boteco". Vinicius contesta critérios da pesquisa. Bem, talvez haja critérios a questionar. Mas, para além disso, parece ser imprudente não tentar refletir quanto à percepção de que as pessoas enxergam que há corrupção no país. Uma ala mais sensata dentro do PT e do governo já vem há algum tempo fazendo a leitura de que parte da impopularidade da atual gestão Luiz Inácio Lula da Silva seria consequência da falta de impressão de que há preocupação clara com o tema.

Este Correio Político, inclusive, já comentou isso por aqui. Lula e o PT parecem enxergar a anulação das condenações na Lava Jato e a consequente reeleição como uma espécie de perdão absoluto. Lula foi eleito especialmente porque se viu do outro lado risco à democracia.

Conversa de boteco pareceria imaginar que a Transparência Internacional realiza periodicamente uma pesquisa em 180 países somente para, ao final, criar uma imagem negativa do Brasil. Não apenas o governo, mas o país, passam sinais de falta de maior cuidado.

O deputado Luiz Carlos Hauly (Podemos-PR) protocolou Projeto de Decreto Legislativo (PDF) pedindo a sustação do contrato de comodato que o governo Lula estabeleceu com a BYD, a montadora chinesa de carros elétricos. São R$ 629,7 mil no contrato, para que o governo utilize os carros fabricados pela empresa. Ocorre, porém, que a BYD recebe benefícios fiscais do governo. Suas plantas de produção são isentas de impostos até 2032. Parece haver, para Hauly, claro "conflito de interesses". O governo isenta a montadora de impostos, e então a fábrica empresta gratuitamente seus carros para o uso de quem a isentou de impostos.

Na justificativa, o PDL aponta que tal situação fere os princípios de "impessoalidade, moralidade e eficiência na administração pública". É mais um calo. Que fica ali tramitando no Congresso para, eventualmente, gerar mais um constrangimento para Lula.

O programa Pé-de-Meia é outro exemplo. Ele é uma entrega concreta do atual governo. Mas, com as irregularidades apontadas, dá as ferramentas para a oposição, que na terça-feira já dizia, após visita ao Tribunal de Contas da União (TCU), ser a "pedalada" de Lula.

É preciso que se lembre que a percepção de corrupção da sociedade não apontaria exclusivamente para o Executivo. O país está às voltas, por exemplo, com um novo escândalo do orçamento. E o Congresso faz cara de paisagem para o problema, para manter o esquema.

O problema é que Lula tem um ministro, Juscelino Filho, das Comunicações, indiciado por suspeita de corrupção exatamente por supostas irregularidades no orçamento. Lula deve ter seus motivos para mantê-lo. Mas ele ajuda a colar o escândalo no governo.