Por: POR RUDOLFO LAGO

CORREIO POLÍTICO | A cultura da não resposta é desrespeito ao cidadão

Pode o BC não comentar o que é de interesse público? | Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

O ano de 2025 começou com uma importante mudança. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tirou da comunicação do seu governo um político, o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), e colocou em seu lugar um profissional, o publicitário Sidônio Palmeira. As mudanças estão sendo testadas, ainda não é possível sentir o quanto darão certo. Mas a alteração era a constatação do óbvio. Como em qualquer área do conhecimento, a comunicação tenderá a ser melhor se feita por profissionais. O grande problema é que a comunicação institucional não piorou somente agora. E décadas na manutenção do erro criaram vícios que serão talvez muito difíceis de serem corrigidos. E o mais grave deles é a terrível cultura da não resposta.

 

BRB

Na sexta-feira (7), o Banco Central inabilitou a recondução de Paulo Henrique Costa à presidência do Banco Regional de Brasília (BRB). Seu nome fora enviado com outros cinco à autoridade monetária, que, por alguma razão, devolveu a lista somente com os outros cinco.

Resposta

Absolutamente legítimo, natural, que se procure saber a razão pela qual o BC barrou a recondução do atual presidente do BRB. Afinal, é um banco estatal, do Governo do Distrito Federal, com milhares de negócios e clientes. Era obrigação do BC com o cidadão explicar.

"O Banco Central não comenta". Virou regra

Cidadão tem o direito de saber o que se passa no BRB | Foto: Paulo H. Carvalho/Agência Brasília

O processo ocorrido na sexta-feira no Banco Central se repete em boa parte das instituições públicas brasileiras. Ao primeiro momento contato, se pede o envio de um e-mail. Espera-se, então, o dia inteiro pela resposta. Quando ela vem, já por volta das 7h da noite, diz somente o seguinte: "O Banco Central não comenta casos específicos de instituições reguladas". Como assim? O Banco Central, a autoridade monetária do país, instituição pública, não comenta o que faz ou deixa de fazer na regulação da atividade de outro banco público? Concorde-se ou não, o Banco Central não ganhou autonomia para virar as costas à sociedade.

Sem resposta

A autonomia talvez não dê a Sidônio chance de interferir na comunicação do Banco Central. Mas não é somente lá que se dissemina a cultura da não resposta. O Correio da Manhã já experimentou o mesmo em estatais e em ministérios. Não responder virou estratégia.

Terceirizados

Estratégia que talvez tenha ligação com outra cultura que se disseminou a partir do governo Fernando Henrique Cardoso: a terceirização. Vendida como solução econômica, embora as empresas costumem ganhar três vezes o que pagam a cada assessor.

Menor esforço

Tais assessorias terceirizadas parecem se basear na lei do menor esforço: quanto menos fazem, mais as empresas ganham. Ao final do mês, apresentam ao contratante relatórios mascaradas com números muitas vezes inventados sobre a eficiência dos serviços.

No DF

O BRB alega que a inabilitação teria se dado por problemas administrativos. Pode ser. Mas também pode não ser. Porque circulam críticas à gestão do banco. Que é público. Portanto, gere dinheiro público. É justo que a resposta, então seja: "O BC não comenta"?