Por: Cláudio Magnavita*

Coluna Magnavita | A democracia existia há apenas sete anos

Lula se entregou depois que venceu o prazo dado pela justiça | Foto: Reprodução

A resistência petista contra a prisão de Lula em 2018 durou três dias na sede dos Metalúrgicos

O que aconteceria hoje se os manifestantes, ao invés de camisas vermelhas, estivessem de verde e amarelo?

Sabem a memória RAM de um computador? Aquela que quando desliga apaga todos os dados salvos de forma temporária? É o mesmo comportamento de parte da mídia brasileira que atua com ativismo político contra a direita. 

Alguém lembra o que ocorreu há sete anos?

Releiam o que o site Congresso Em Foco publicou na época: "Após pouco mais de 25 horas do prazo final estabelecido no mandado de prisão, expedido pelo juiz Sergio Moro, da 13ª Vara Federal em Curitiba, o ex-presidente Lula se apresentou à Polícia Federal em São Paulo. A saída do petista do prédio do Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo do Campo (SP), foi precedida de muita resistência e tumulto por parte dos militantes que bloqueavam a saída da sede. Depois de tentar por duas vezes sair de carro, Lula resolveu, às 18h45, deixar o prédio andando e entrou em um carro da PF que já o aguardava nos arredores do prédio".

Foram dois dias de resistência no prédio do Sindicato dos Metalúrgicos, no ABC Paulista, com centenas de militantes em vigília, com discursos e transmissão ao vivo pela TVT, a rede de televisão da CUT. Resistia a uma ordem da justiça e a Polícia Federal estava barrada na porta do Sindicato, impossibilitada de cumprir o mandado de prisão. Isso foi no dia 07 de abril de 2018.

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Sem censura, a TVT, da CUT, ficou no ar três dias transmitindo a resistência petista | Foto: Reprodução

Alguém comparou esta atitude de Lula com a prisão do Bolsonaro? Querem saber mais? Veja o que disse o Congresso Em Foco, só para a coluna não ter de recorrer aos sites do grupo Globo: "Por volta das 17h, um carro com Lula e o advogado Cristiano Zanin tentou deixar o Sindicato dos Metalúrgicos em São Bernardo (SP), mas foi impedido por uma barreira de manifestantes. Poucos minutos depois, uma nova tentativa foi realizada, mas também sem sucesso. Já com horário extrapolado, por volta das 18h, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), teve que subir no carro de som para dizer aos manifestantes que deixassem o ex-presidente sair, para que o próprio Lula fosse preservado." A mesma Gleisi, que comandou por três dias a resistência à prisão e que, sete anos depois, virou ministra da articulação política.

Há sete anos era o atual ministro do STF, o então advogado Cristiano Zanin, quem estava ao lado de Lula na resistência ao cumprimento de uma ordem de prisão. Pode parecer paradoxal, mas Zanin foi um dos protagonistas dos três dias em que Lula ficou aquartelado na sede do Sindicato, resistindo à ordem da justiça e barrando a ação da Polícia Federal. Era Governo Michel Temer e Jair Bolsonaro figurava apenas como um folclórico candidato à Presidência da República.

Alguém lembra do protagonismo do STF neste caso da prisão de Lula com resistência? Veja o que escreveu a mesma fonte que continuamos a transcrever: "Um dia depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) negar habeas corpus ao ex-presidente, em decisão colegiada, Moro determinou a prisão do petista, na noite de quinta-feira (5/04/2018), e fixou para o dia seguinte, sexta-feira (6/04/2018), às 17h, o prazo para que ele se entregasse. O prazo, de acordo com o juiz, foi dado em razão da 'dignidade do cargo' que o petista exerceu. Moro também proibiu o uso de algemas e, no mandado de prisão, disse ter preparado sala especial para o início do cumprimento da pena do ex-presidente."

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Gleisi, Boulos e Marinho agora Ministros. Eles estavam no movimento que impediu a ação da PF | Foto: Reprodução

O Congresso Em Foco, até então um dos sites mais independentes e isentos do Brasil, escreveu "No mandado, apesar de Lula ainda ter direito a um recurso no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), Moro ressalta que o recurso não tem 'efeitos suspensivos' junto ao TRF-4 e não há como a defesa protelar a execução da pena. Desde que o mandado foi expedido, a defesa do ex-presidente já sofreu duas derrotas na Justiça, sendo uma no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e uma, hoje, no Supremo Tribunal Federal (STF)." Isto mesmo caro leitor: "derrota no STF". É por isso que Lula agora indica Jorge Messias, atropelando todos os conselhos. Nomeou o seu advogado Cristiano Zanin, protagonista da resistência, e também o seu ex-ministro da Justiça, Flávio Dino. Na época da prisão, isolado, Dias Toffoli contrariou o que se esperava de um petista de carteirinha no STF e chegou a cair em desgraça com o próprio Lula. O ministro Edson Fachin, hoje presidente do STF, não deu um pio pró-Lula.

Há apenas sete anos não existia oficialmente a Janja. Só os mais íntimos sabiam da sua vida secreta com Lula. Sabem o que ele fez antes de se entregar? Outro registro do Congresso em Foco que resgatamos: "Antes de se entregar, o ex-presidente participou de uma celebração religiosa em homenagem a Marisa Letícia, que hoje (07/04/2018) completaria 68 anos. Após o culto ecumênico no Sindicato dos Metalúrgicos em Campos (SP), como esperado, o ex-presidente fez um discurso crítico ao Judiciário e à sua condenação. Ele reafirmou sua inocência e voltou a atribuir sua condenação judicial a um processo de perseguição política, envolvendo grandes veículos de mídia, o Judiciário, o Ministério Público e a Polícia Federal. Sua fala durou pouco mais de 50 minutos." Dona Marisa tinha sido velada no próprio sindicato no dia 03 de fevereiro de 2017. Aparentemente, morreu sem saber que Janja dava os seus primeiros passos e que assumiria um protagonismo a partir da prisão em Curitiba.

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Um mar de militantes usando vermelho impediram a entrada da PF na sede do sindicato | Foto: Reprodução

Sete anos depois, Lula é presidente, sem ter sido inocentado pelos crimes de corrupção que foi acusado; nomeou quem quis no STF — inclusive seu advogado; e todos aqueles que estão em uma foto histórica da militância do PT resistindo a PF ou são ministros, ou ocupam cargos relevantes no país. Nessa, até Guilherme Boulos virou ministro de Estado. Quem imaginaria isso há sete anos atrás? O que ocorreu com o Brasil?

Neste cenário, temos em 2025 um ex-presidente sendo preso por um "golpe de Estado" que nunca ocorreu, só porque o filho, um Senador da República, Flávio Bolsonaro, chamou uma vigília na frente do condomínio onde cumpria prisão domiciliar. Alguns dos líderes petistas foram condenados ou indiciados por impedirem a atuação da Polícia Federal em 2018? Alguém foi preso por obstruir a justiça? Alguém interrompeu a transmissão da TVT, por estar estimulando a desobediência à justiça? É só perguntar o que aconteceria se uma manifestação similar fosse realizada hoje e se os manifestantes, ao invés de camisa vermelha, usassem camisa verde e amarela. Alguém duvida que seriam imediatamente presos e levados para estádios sem direito à água e comida? Depois, condenados há alguns anos de prisão? Um detalhe: Alexandre de Moraes, em abril de 2018, no dia da resistência petista, já era ministro do STF. Por que ele não agiu em defesa da justiça e da Polícia Federal? O então ministro da Justiça, a quem a Polícia Federal era subordinada, era Torquato Jardim, que tudo acompanhou e deu ordem para que a Polícia Federal respeitasse os manifestantes.

A PF era tratada como uma instituição de Estado e não como instrumento político.

Este registro factual serve para demonstrar o quanto o governo de Michel Temer zelava pela Democracia, pela liberdade de expressão e uma tolerância às manifestações políticas mais acirradas. Éramos felizes e sabíamos. A conclusão é que hoje o Brasil está muito diferente do clima democrático de 2018. Não respiramos o mesmo ar de liberdade e de tolerância de 2018.

*Diretor de Redação do Correio da Manhã