O Governo Federal foi pego de surpresa e ficou um clima de barata voa com as primeiras informações que chegavam no Rio. O presidente Lula fora do país; Rui Costa desembarcando em Brasília, depois de um voo da Gol, que partiu de Salvador as seis da manhã; o ministro Ricardo Lewandowski na sua rotina normal matutina. O que seria um clima normal, na véspera da posse do novo ministro Guilherme Boulos, virou um clima de crise: a luz amarela, virou vermelha. "O que está acontecendo no Rio?". Foi a pergunta mais ouvida nos corredores do Palácio do Planalto e do Ministério da Justiça.
As imagens das televisões e redes sociais pareciam cenas de Gaza ou do 11 de setembro. Os vídeos dos drones jogando granadas sobre policiais e a transformação do Complexo do Alemão e da Penha em praças de Guerra deixaram o governo atordoado. Afinal, todos sabiam que a conta seria espetada nas múltiplas omissões do Governo Federal, ainda mais com a infeliz declaração de Lula na Ásia dizendo que traficantes "eram vítimas dos usuários de droga". Tempestade perfeita formada, ainda mais com o governo federal tentando fazer os estados reféns de uma norma jurídica criada na cabeça do ministro da Justiça que amarra o poder de reação das unidades federativas.
Depois de passar a semana denunciando as omissões do Governo Federal, como fez no sábado, 25, em um painel da Fundação Francisco Dornelles, em São Paulo, e na segunda, 27, no Fórum de Segurança, organizado pelo jornalista Guilherme Amado com a Fundação Getúlio Vargas, o Governador do Rio, Cláudio Castro, resolveu colocar literalmente a sua tropa na rua e 2.500 policiais foram dar um basta ao Comando Vermelho no Alemão e na Penha.
Apesar do grande efetivo, não houve vazamento e a reação dos bandidos foi traumatizar a cidade com barricadas na Avenida Brasil, Linha Amarela e na Grajaú-Jacarepaguá. Os 100 fuzis apreendidos confirmam o que o Governador vinha afirmando nas palestras: "Cadê o policiamento de fronteira? Cadê o controle nas estradas?". Fuzis não brotam! São trazidos aproveitando a falta de uma política pública nacional que priorize o combate a armamento pesado.
Como o tema de segurança sempre desgastou politicamente o Governador, soa como intencional a transferência pelo Governo Lula da responsabilidade para a unidade federativa. Deixar o Governador sangrando era um bom negócio para a política, usada até pelos candidatos à sucessão do Palácio Guanabara. O Governo vinha agindo e fazendo um dever de casa, sem ajuda federal, investindo em segurança mais do que teria de investir na saúde ou educação. Se a intervenção no governo de Michel Temer colocou R$ 800 milhões em equipamentos na segurança, a gestão de Castro já investiu 14 vezes mais.
A politização do tema ficou visível com o vídeo distribuído nas redes sociais pelo presidente da Embratur (que deveria cuidar da imagem do Brasil no exterior), Marcelo Freixo, atacando o Governador Cláudio Castro na pessoa física e dizendo, pasmem, que ele estava fazendo uma política sobre caixões, prática rotulada ao próprio Freixo nas suas intervenções oportunistas em grandes tragédias. Aliás, o presidente da Embratur deveria optar entre as liturgias que o seu cargo obriga ou fazer política partidária. A mesa branca do vídeo, por coincidência, tem a mesma textura do seu gabinete.
Além dos 100 fuzis apreendidos, alguns detalhes devem ser observados pelos órgãos de inteligência. Parte dos mortos são bandidos oriundos de outros estados e por que, até hoje, os integrantes da "Comissão" que vivem no Pavilhão 7, dentro do complexo penitenciário de Bangu 3, não foram transferidos para presídios de segurança máxima do Governo Federal?
Voltando à política, a reação do Prefeito Eduardo Paes foi de sapiência eleitoral. Reafirmou a presença dos serviços da Prefeitura e se manteve em vigília no Centro de Comando e Controle. Não deu um pio criticando a operação, bem diferente de Marcelo Freixo.
Os ministros da Justiça, Ricardo Lewandowski, e da Casa Civil, Rui Costa, chegam ao Rio para uma reunião com o Governo do Estado e tentar sair das cordas.
Às 15h59, com a operação ainda em curso, o Procurador da República, Júlio José Araújo Junior, e o Defensor Publico Federal, Thales Arcoverde Treiger, já assinavam ofício interpelando o Governador Cláudio Castro pedindo informações detalhadas sobre a atuação do estado e questionando se foram cumpridas as determinações da APF 635.
A operação e o seu desdobramento foram acompanhados de perto pelo presidente do Tribunal de Justiça do Rio, desembargador Ricardo Couto, e pelo Procurador Geral de Justiça do Estado, Antônio Jose Campos Moreira, ambos em linha direta com o governador.
Durante o dia desta quarta, 28, o telefone do Governador Cláudio Castro não parou de tocar, com mensagens de solidariedade. Na próxima sexta, 31, Castro deverá receber a visita de governadores aliados, como Ronaldo Caiado, Tarcísio de Freitas, Ratinho Junior e Romeu Zema para uma reunião de trabalho e alinhamento contra o confronto estabelecido pelo governo federal e os entes federativos, roubando-lhes a autonomia.
No final da tarde, um editor de política de outro grande jornal afirmava à coluna que o cenário político do Rio mudava com a demonstração de força dada pelo Governador. Quem vai se colocar a favor da bandidagem, além, é claro, da vitimização dos traficantes feita por Lula em sua infeliz fala na Ásia. O que Lula tem a dizer às famílias dos 4 policiais mortos em serviço nesta terça, 28 de outubro? Politizar a segurança pública como vem fazendo o Governo Lula e seus aliados, como Marcelo Freixo, é sórdido. A foto que ilustra a coluna retrata o contrassenso lulista, o uso de ação social nas comunidades virou escudo para os bandidos.