Por: Cláudio Magnavita*

Coluna Magnavita | Por que o carioca e o fluminense não conseguem ser bairristas e demonizam a política do bem?

Por que o carioca e o fluminense não conseguem ser bairristas? | Foto: Alexandre Macieira | Riotur

É inacreditável a torcida contra o Rio no campo da política. Lembram da lenda do sapo que dá carona ao escorpião e os dois morrem juntos na travessia de um Rio? Isso mesmo, de um Rio, sem trocadilhos com o nosso estado. A falta de um projeto político que una o estado é fruto de uma falta de bairrismo histórico. Como capital do Império e depois da República, como Distrito Federal, e depois estado da Guanabara não se consegue uma liga que una a capital/cidade-estado com o interior. Não há sentimento de pertencimento. O antigo Estado do Rio de Janeiro que tinha Nitheroy como capital eram sempre eles, os pobres, contra uma cidade luz no outro lado da baía, que reunia a corte.

Essa falta de bairrismo se manifesta anos e gerações depois. Na política, o mundo real vai muito além da Zona Sul. O problema é que parte da mídia continua com a visão da Zona Sul e esquece o pulsar político do interior. A demonização da política é fruto deste horário balneário de uma mídia, principalmente as televisões que falam do Rio Capital para o Brasil e cada vez menos para o interior.

A falta de unidade transforma a política fluminense em um ringue de luta permanente. Impede o surgimento de lideranças estaduais novas que falem com a capital ou que da capital fale com o interior. Já tivemos governadores oriundos do interior. Eles foram aceitos na capital ou eram intrusos ocupando o Laranjeiras?

O governador Cláudio Castro surfou neste espaço vago e tendo sido vereador da capital construiu uma imagem de valorização do interior. É por isso que nas pesquisas para senador ele ocupa um segundo lugar bem próximo a Flávio Bolsonaro. Aliás, nas pesquisas a direita só leva a segunda vaga com a candidatura de Castro.

Para o Governo, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, está empenhado em conquistar o interior, mas será sempre o prefeito da Capital. O presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar, que se mantém na disputa, conseguirá conquistar a capital ou será o intruso de Campos querendo morar no Laranjeiras?

É preciso que a política fomente o bairrismo. O amor ao estado. Que tenhamos até um hino para chamar de nosso, como os baianos e gaúchos possuem. A nossa unidade é ofuscada pela demonização da política e dos políticos. Neste aspecto a mídia tem uma enorme responsabilidade. Sabe qual é o único Jornal que diariamente publica na capital notícias do interior? Só o Correio da Manhã, com redações no Sul Fluminense e na Região Serrana. É o único que está fisicamente muito além da capital e da zona Sul. Mostra um Rio que os fluminenses desconhecem. É por isso que podemos dizer que a política do Rio precisa de união em um projeto que abrace todo o estado.

Campanha política não é para destruir adversários e nem distrair eleitores. Campanha política é para ter um projeto político comum que una a capital e o interior no conceito de um estado uno, como é o caso dos mineiros que aceitam e amam Belo Horizonte como a sua capital e não como uma adversária que drena todos os grandes recursos. No caso de BH, o exemplo nos serve. É uma cidade fundada em 12 de setembro de 1897, apenas 4 anos mais velha do que o Correio da Manhã. Precisamos em 2026 de uma campanha que una o estado e a sua capital e que coloque todos no mesmo barco. Não precisamos de mais uma campanha eleitoral fratricida.

*Diretor de Redação do Correio da Manhã