Por: Cláudio Magnavita*

A Anistia é um ato de amor ao Brasil

Está nas mãos dos presidentes Davi Alcolumbre e de Hugo Motta a chance histórica de serem os pacificadores | Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

O grande problema político no Brasil é que a eleição de 2022 não terminou e a eleição de 2026 já começou

A polarização acerbada uniu os dois pleitos. Eleito por uma maioria ínfima, Lula não desceu do palanque e usou o mesmo discurso raivoso para tentar trucidar o bolsonarismo. Na direita, os movimentos de alcova tentando uma saída para os resultados das urnas e, depois, o 8 de janeiro, trouxeram o debate para um ativismo do judiciário que se arrasta até hoje e terá seu ápice em pleno 7 de setembro de 2025, que ocorrerá durante o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Não houve trégua dos dois lados. O correto era esperar os quatro anos em clima de tranquilidade e se preparar para a eleição de 2026.

O Brasil tem hoje um governo que mal governa, com uma base no Congresso useira na infidelidade, um judiciário que ampliou o ativismo eleitoral que usou em 22 para danificar os instrumentos eleitorais da direita e uma oposição que tenta sobreviver muito além do sobrenome Bolsonaro.

Literalmente, o país está à deriva. Falta unidade, pacificação e mergulhamos em um quadro de insegurança jurídica e de incertezas que afastam investimentos.

A responsabilidade de Lula de não descer do palanque e perpetuar um discurso raivoso nas suas falas é enorme. A sua base está construída no “toma lá e dá cá”. Um sistema de troca que não gera fidelidade e que leva os atores a pensarem no seu quinhão e, cada vez menos, na nação.

Todas as propostas de anistia ou baixar a fervura são prejudicadas pelo fantasma de ter Jair Bolsonaro de volta em 2026. É insano punir a pacificação por um medo eleitoral.

Os governadores de direita formam a maior parte do PIB brasileiro e, juntos, são escorraçados e prejudicados até pelos vetos presidenciais do Propag. Não há aceno de boa vontade do Planalto. Só desconfiança.

Não houve trégua no pós 2022. Nos Estados Unidos, a vitória de Joe Biden foi respeitada e ele foi retirado da Casa Branca pelas urnas. Na próxima eleição, os atos de Donald Trump serão julgados pelas urnas e se abre uma avenida para Robert Kennedy Jr.

O exemplo de Juscelino Kubitschek, ao anistiar aqueles que tentaram barrar a sua posse, trouxe serenidade ao Brasil.

No Congresso, a adesão à anistia já forma maioria. O sentimento encruado é sobre o excesso da lei contra os incautos dos acampamentos na porta dos quartéis e ao efeito manada que levou a destruição do patrimônio público. A Lei da Anistia não deve, porém, perdoar quem tentou explodir um caminhão-tanque e planejar atentados contra a vida de autoridades.

O processo de ebulição está ao máximo, inclusive atingindo líderes religiosos. É preciso que se volte a pensar no Brasil e na necessidade de trazer a paz de volta. Está nas mãos dos presidentes Davi Alcolumbre e de Hugo Motta a chance histórica de serem os pacificadores. A anistia, a exemplo de JK, não é um ato de louvor à impunidade, mas de amor a um Brasil e que traga a paz.

*Diretor de Redação do Correio da Manhã