Por: Cláudio Magnavita

Coluna Magnavita | O trem fantasma de Mister King

Washington Reis, ex-secretário de Transportes | Foto: Reprodução

Processo de acidente ferroviário de uma família humilde é usado para repassar 116 vagões de trem para sucateiros em negócio milionário. Material é avaliado em R$ 16 milhões e entregue por R$ 1 milhão. Justiça vê indícios de irregularidade, manda sustar a entrega e exige a íntegra dos preços interno que a Central do Brasil, subordinada a Secretaria estadual de Transportes mantinha o processo do SEI em segredo. 

O paradoxo é que Washington Reis necessita da benevolência do STF- Supremo Tribunal Federal - para derrubar a sua inelegibilidade e ficar livre da prisão. O parecer do Ministro Gilmar Mendes seguiu para o Ministro Flavio Dino a quem caberá a decisão final. Agora auge a notícia que o réu utilizou da boa vontade do judiciário para fazer negócios envolvendo milionário no ramo de sucatas e reciclagem.

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Material avaliado em R$ 16 milhões é entregue por R$ 1 milhão | Foto: Foto: CM

A gestão de Washington Reis vai ter de explicar à justiça como conseguiu incluir 116 vagões de trens da Central do Brasil, para pagamento de uma dívida de R$ 1 milhão. Cada vagão saiu por módicos R$ 6 mil.

O Dr. Daniel Calafate Brito - Juiz em Exercício da 1ª Vara da Fazenda Pública, determinou a suspensão dos efeitos da homologação do Acordo em id. 4036 até a decisão dos presentes Embargos, notadamente a dação em pagamento dos bens (adjudicação) dos 116 vagões.

O processo 0037260-17.1997.8.19.0001, que tem como autor o ESPÓLIO DE LUIZA CARVALHO NICANOR TOMAZ e como Réus a FLUMITRENS e COMPANHIA ESTADUAL DE ENGENHARIA DE TRANSPORTES E LOGÍSTICA - CENTRAL, de um acidente rodoviário, foi usado como pano de fundo para o negócio que envolve 116 vagões de trem. Eles foram adjudicados para quitação de uma dívida, que hoje não passaria de R$ 1 milhão. A primeira decisão judicial foi favorável a entrega dos vagões relacionados como sucatas e qualificados em um processo no estado que misteriosamente ganhou sigilo com o número SEI 100006/000799/2024.

Com a decisão inicial que aceitou os 116 vagões por um milhão, um guindaste de uma empresa de Duque de Caxias, começou retirando dois vagões por dia do depósito denominado XM5 da Supervia, com autorização da Central. Com a decisão do Juiz Calafate Brito, em 11 de junho, os vagões pararam de ser retirados, mas o trabalho dos serralheiros continuou. A Central terá de apresentar em juízo a íntegra do processo do SEI, pelos sinais de irregularidades na avaliação do bem do estado, entregue por um valor 16 vezes inferior ao valor de mercado dos equipamentos.

Os 116 vagões aceitos como pagamento da ação indenizatória feito a pessoas simples e de uma hora para outra apareceu carretas e guindastes para a remoção, em uma operação milionária.

O presidente da Central é Fabricio Abilio, homem de confiança de Washington Reis. O processo de adjudicação foi montado passando pela Procuradoria Geral do Estado; Casa Civil; e pela própria governadoria, como se fosse um grande negócio para o governo, sem revelar as nuances de um negócio milionário que envolve empresas de sucatas e reciclagem.

Para um conhecido advogado que teve acesso ao processo e aos embargos: "A justiça foi usada pela gestão de Washington Reis para que 116 vagões de trens, com valor de mercado de R$ 16 milhões, fossem entregues a operadores do mercado por uma ínfima parte do valor, é de uma enorme ousadia".

A própria justiça é quem está agora colocando lupa e barrando o negócio.