Por Cláudio Magnavita*
O silêncio corporativo da Petrobras sobre o desmaio da sua presidente, Magda Chambriard, a bordo de um avião da GOL na frente de quase duas centenas de pessoas só potencializou o mistério sobre a saúde da executiva, que há quatro anos, em uma viagem ao exterior, precisou ser internada com urgência, ficando em UTI durante um longo período, fato só revelado pela coluna no processo de investigação jornalística.
Como empresa de capital aberto, com ações comercializadas nas bolsas de valores, inclusive na de Nova Iorque, a postura da companhia deveria ser de transparência absoluta e não a de omitir o fato ocorrido de forma pública, no trajeto de um Boeing 737-800 da GOL, na manhã do último dia 16, no trajeto Florianópolis - Galeão.
A presidente da Petrobras desembarcou na sexta, 14, às 18 horas, no Galeão, após um voo de longo curso que saiu da Índia e passou pela Holanda com mais de 30 horas, somando as duas etapas. No próprio sábado, embarcou para Florianópolis para uma agenda familiar e no dia seguinte embarcou às 9h50 no voo da GOL G3 2023, decolando com destino ao Rio; e a noite já teria uma agenda com seus diretores no Hotel Portobello, em Mangaratiba, para receber o presidente Lula, na segunda dia 17, em Angra dos Reis.
TRATAMENTO VIP - No voo da GOL, Magda Chambriard foi acomodada nas últimas poltronas, já que não havia lugares disponíveis na classe Comfort - as cinco primeiras filas do Boeing com mais espaço e destinadas aos passageiros Diamante do programa Smiles da Companhia. Com o embarque finalizado, sobrou algumas poltronas nesta seção e os comissários foram convidá-la a mudar de assento, sendo alojada na fileira 2.
Ela viajava em companhia de uma das suas duas filhas (uma delas residente na Austrália) e de um rapaz de terno que aparentava ter quarenta anos. O voo decolou no horário e durante o trajeto, o susto. A presidente da Petrobras desmaiou sobre a bandeja aberta e ficou completamente sem sentidos. Foi estourando um pânico na aeronave e foi solicitada a presença de médicos. Por coincidência, uma neurologista carioca, casada com um respeitado advogado, estava sentada ao lado de outro médico, um cirurgião pediátrico. Os dois atenderam o chamado de emergência médica e foram socorrer a passageira, sem saber de quem se tratava.
Magda foi removida do seu assento, colocada no piso do avião e começou o trabalho para reanimá-la. A filha entrou em colapso e dizia que iria desmaiar, os dois passageiros médicos tiveram de enfrentar a hostilidade de um comissário que cobrava a identificação dos dois samaritanos. O rapaz segurava o braço da paciente, o que impedia os médicos de medirem a pressão, que estava imperceptível. A senhora estava desfalecida, com baixos sinais vitais. Foi entregue o kit de primeiros socorros, nele o medidor de pressão estava defeituoso e não funcionava. Os médicos haviam elevado os membros inferiores para oxigenar o cérebro e pouco a pouco ela começou a reagir.
Questionada sobre o equipamento defeituoso, a companhia aérea enviou a seguinte nota ao Correio da Manhã: "A GOL informa que durante o voo G3 2023, entre Florianópolis (FLN) e o Rio de Janeiro, aeroporto do Galeão (GIG), realizado no domingo (16/02) houve a necessidade de atendimento médico. Houve acionamento por parte da equipe de tripulantes de um médico a bordo, para quem foram disponibilizados kits de primeiros socorros e caixa médica. Porém, não houve necessidade de uso da caixa médica devido a melhora apresentada pela Cliente.
A Companhia reforça que todas as ações tomadas a bordo seguiram os protocolos dos órgãos reguladores para este tipo de ocorrência, sempre com foco na Segurança, valor número 1 da GOL". Em conversa com a coluna, a empresa explicou que existem dois equipamentos de emergência a bordo, um kit de primeiro socorros, onde estava o equipamento defeituoso e um kit médico, bem mais completo, que só pode ser usado por profissionais da área de saúde, no qual havia outro medidor de pressão. Como explica a nota, como a passageira/paciente reagiu ao socorro dos dois médicos, não foi necessária a abertura do "kit médico", que contém bisturís, e outros instrumentos para emergências até cirúrgicas.
Por recomendação da própria tripulação, foi colocado pelo médicos, no relatório de atendimento, que o instrumento do kit de primeiros socorros estava avariado, ou seja, existe um documento oficial que aponta a falha do equipamento, necessário para orientar os procedimentos de primeiros socorros.
A Agência Nacional de Aviação Civil foi questionada sobre o episódio e sobre as providências que seriam adotadas após a constatação da falha. Até o fechamento da edição, a agência não havia enviado um email resposta à nossa redação de Brasília.
Na segunda, 17, a estratégia da Petrobras foi de demonstrar normalidade. A presidente da empresa, apesar de ter cancelado a ida ao Hotel Portobello no domingo, embarcou na Base de Santa Cruz, no helicóptero presidencial ao lado do presidente Lula e participou da solenidade de contratação de navios petroleiros em Angra. Segundo um assessor e amigo próximo, ela teria decidido ir para Brasília no avião presidencial, para cumprir agenda.
O aparente quadro de normalidade não apaga dois fatos relevantes envolvendo a saúde de Magda Chambriard, presidente da maior empresa do país: ela sofreu um apagão durante um voo doméstico, sendo socorrida por médicos; e há quatro anos, precisou ser internada em uma UTI, no exterior, durante dias. São dois fatos que podem não estar conectados, mas, após a revelação pela imprensa, merecem ser explicados, até para trazer uma tranquilidade aos acionistas e funcionários da estatal, já que o silêncio corporativo da Petrobras não tranquiliza e só ajuda a criar um universo de especulações e mistério. Enquanto estiver na presidência da empresa e nomeada pelo presidente da República, a saúde de Magda Chambriard é de interesse nacional.
*Diretor de Redação do Correio da Manhã