Acusada de se aliar à esquerda ao divulgar um comercial de Havaianas estrelado pela atriz Fernanda Torres, a Alpargatas (fabricante das sandálias) já apoiou de maneira explícita a ditadura militar.

Em 1972, publicou em revistas, jornais e outdoors peça publicitária do tênis Conga — um dos mais populares da época — que remetia à forma e ao conteúdo de campanhas divulgadas pelo governo. O anúncio mostrava um menino marchando diante de uma banda fardada. Além do slogan — "Pise firme que este chão é seu" — recomendava: "Desfile de Conga".

Na época, período mais duro da ditadura, o regime militar fazia campanhas como a do "Brasil, ame-o ou deixe-o", referência a integrantes de grupos de esquerda que eram banidos ou obrigados a morar no exterior para fugir da prisão e da tortura. Estimulava também canções como "Eu te amo, meu Brasil".

A Alpargatas também lançou compacto duplo — disco de de quatro faixas — que, na capa, trazia a foto colorida do menino que mostrava a sola do tênis. Abaixo dele, estavam o slogan da campanha e o indicativo do conteúdo do disco: "Hinos brasileiros". Em 1972, o país comemorava 150 anos de independência.

A contracapa trazia o quadro "Independência ou morte", de Pedro Américo, e letras dos hinos Nacional e da Independência, que ficavam no lado A do disco. No B, havia uma marcha de viés militar composta por Hareton Salvanini, batizada com o slogan da campanha e interpretada por uma banda do Exército.

A Alpargatas foi fundada em 1907 pelo escocês Robert Fraser associado a ingleses; em 1913, abriu seu capital. As Havaianas foram lançadas em 1962 — vinte anos depois, a empresa seria comprada pela Camargo Corrêa que, em 2015, a repassaria para a J&F. Hoje, pertence ao Itaú e à família Moreira Salles.