Por: POR FERNANDO MOLICA

CORREIO BASTIDORES | Governo e oposição comemoram início do recesso

Lula teme indícios de participação do filho no caso INSS | Foto: Ricardo Stuckert/PR

O início do recesso parlamentar e as festas de fim de ano representaram um alívio para quase todo mundo do universo da política.

Depois de tantas surpresas em dezembro — lançamento da pré-candidatura de Flávio Bolsonaro à Presidência, operação policial contra dois importantes deputados do PL —, a direita e o Centrão torcem para que as férias ajudem a esfriar a tensão.

Já o Palácio do Planalto tem outro motivo para comemorar a interrupção, até início de fevereiro, dos trabalhos do Congresso. Isso dá tempo para abaixar a fervura do suposto envolvimento de Fábio Luís Lula da Silva, filho do presidente, com a máfia do INSS.

 

Ação da Polícia Federal

Sóstenes Cavalcante foi alvo de operação da PF | Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados

Deflagrada no dia seguinte da divulgação de documentos que envolveriam Lulinha, a operação da Polícia Federal contra o líder do PL, Sóstenes Cavalcante, e Carlos Jordy (ambos do RJ) deu um fôlego ao governo, mas ainda há muita apreensão.

O Congresso ficará parado, mas as investigações da PF vão continuar. O governo confiava que o caráter democrático das fraudes — ocorridas também no mandato de Jair Bolsonaro — diminuiria os danos, mas a eventual entrada de Lulinha no jogo desequilibra a balança.

Pressão na CPI

Notícias sobre a eventual ligação de Lulinha com um dos grupos que lesavam aposentados e pensionistas fortaleceram a oposição na CPI do INSS, que passou a forçar a possibilidade de convocação do filho do presidente.

Até agora, a bancada governista conseguiu barrar a ida de Fábio e de José Ferreira da Silva, o Frei Chico, irmão de Lula. Mas a pressão da opinião pública poderia, pelo menos, gerar desgastes capazes de arranhar o presidente.

A lista do PL

O maior problema do PL também tem a ver com investigações da PF: Sóstenes e Jordy engrossaram a lista de parlamentares do partido suspeitos de irregularidades com dinheiro público. Josimar Maranhãozinho e Pastor Gil (ambos do Maranhão) e o suplente Bosco Costa (SE) estão para ser julgados pelo Supremo Tribunal Federal, acusados de desvio de emendas parlamentares.

A fila anda 1

Em dezembro, três deputados do partido perderam seus mandatos: Alexandre Ramagem (RJ), Eduardo Bolsonaro e Carla Zambelli (os dois, de SP). Os três estão no exterior. Ainda há os que correm o risco de serem denunciados no interminável inquérito das fake news, conduzido por Alexandre de Moraes.

A fila anda 2

A operação da PF, a imagem dos R$ 430 mil apreendidos na casa de Sóstenes e as explicações pouco detalhadas sobre a origem do dinheiro atrapalham o projeto de permanência do deputado na liderança do PL. No fim de semana, já se discutia a eleição de outro líder em fevereiro, até para poupar o partido.

Bola pro lado

A suspeita de fraude no uso da parlamentar complicou também a possibilidade de candidatura de Sóstenes ao Senado — opção que chegou a ser defendida por Jair Bolsonaro. O mais provável é que ele, pastor da igreja de Silas Malafaia, tente a reeleição para a Câmara, algo menos arriscado.

Donos das vagas

A pré-candidatura de Flávio à Presidência e a operação contra Sóstenes praticamente garantiram ao senador Carlos Portinho (PL-RJ) o direito de disputar a reeleição para o Senado (ele é suplente de Arolde de Oliveira, que morreu em 2020). A outra vaga do PL ficará, em tese, com o governador do Rio, Cláudio Castro.

Veto ao veto

Não vai ser fácil para o governo manter o anunciado veto de Lula ao projeto que reduz penas e facilita a progressão de regime de condenados por tentativa de golpe. Para derrubar o não do presidente são necessários 257 votos na Câmara e 41 no Senado. A proposta passou, com respectivamente, 291 e 48 votos.

Estilo de jogo

Ou seja, para manter seu futuro veto, Lula precisaria mudar o voto de oito senadores ou de 35 deputados. E nenhum dos que votaram contra ou se abstiveram poderia ficar a favor da proposta. A conferir se o governo vai entrar duro ou se manterá o jogo de compadres registrado na tramitação do projeto.