Por: Fernando Molica

CORREIO BASTIDORES | Flávio e Trump causam bateção de cabeças na direita

Senador: autocandidatura dividiu aliados | Foto: Waldemar Barreto/Agência Senado

A autocandidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) à Presidência e a revogação das punições do governo norte-americano ao ministro Alexandre de Moraes mostraram o tamanho da desarticulação e das divergências na direita brasileira.

Cada um passou a jogar por si, a chutar para onde aponta o próprio nariz — sequer a extrema direita bolsonarista conseguiu encontrar um ponto em comum, como demonstrou a discussão pública entre o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) e o blogueiro Allan dos Santos: "Você é um bosta", alardeou o primeiro ao se dirigir ao segundo.

Flávio e o irmão Eduardo, deputado federal, também bateram cabeça ao avaliar o caso Moraes.

 

Eduardo falou em pesar

Em nota divulgada logo depois de a Casa Branca anunciar o fim da aplicação da Lei Magnitsky a Moraes, Eduardo disse ter recebido a medida "com pesar", criticou a falta de "unidade política" e de "coesão interna" e reclamou do "apoio insuficiente" às iniciativas que resolveu implementar no exterior. Reconheceu a derrota e jogou a responsabilidade sobre os aliados que não apoiaram o que ele decidira fazer nos Estados Unidos.

Flávio cantou vitória

Governo dos EUA suspendeu sanções contra Moraes | Foto: Rosinei Coutinho/STF

Flávio, porém, resolveu tentar transformar a bola nas costas aplicada por Donald Trump em vitória — se disse feliz com o fato. Em vídeo, afirmou que o presidente dos EUA, ao beneficiar o ministro do Supremo Tribunal Federal, fizera um "gesto gigantesco" pela anistia no Brasil.

Sua fala teve como base manifestação de funcionário do governo norte-americano que relacionou o fim das punições à aprovação, pela Câmara, de projeto que reduz o tempo de prisão de condenados pela tenativa golpista, entre eles, Jair Bolsonaro.

Projeto e anistia

Para o senador, a decisão e o comentário foram uma forma de pressão por uma medida de ampla em prol dos condenados. Ressaltou que há, no Senado, a oportunidade de transformar a redução de penas em anistia — segundo ele, isso viabilizaria nossas benesses por parte das Casa Branca, entre elas, a retiradas de todas as sanções comerciais ao Brasil.

Sem fingir

Para um parlamentar do próprio PL, aliado dos Bolsonaro, não dá para fingir que a derrota foi uma vitória. E ressalta que Eduardo não pode reclamar de falta de apoio, já que ele decidiu embarcar para os EUA e pedir punições ao Brasil sem consultar aliados políticos. "Ele criou o problema", ressaltou.

Bom pra esquerda

O aliado também considerou um erro Flávio falar em em ampliação do projeto num momento em que a esquerda, para tentar mobilizar a população, passou a classificar a proposta de anistia e não de redução de penas. Para ele, a fala acirra os ânimos e tem possibilidade até de complicar sua votação no Senado.

Faltou conversa

A divisão na direita e no Centrão provocada pelo lançamento da pré-candidatura de Flávio é outro complicador. Para o parlamentar, o principal erro do senador e de seu pai foi o de não articularem o anúncio da indicação com outros partidos. "Eles não conversaram com ninguém", ressalta.

A ponte caiu

Um dos mais irritados é o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI). Ele manifestou a pessoas próximas que se sentiu traído — Ciro se via como o grande engenheiro que construiria a ponte entre o ex-presidente e o Centrão. Para ele, uma candidatura de extrema direita complica a situaçao no Piauí, onde o eleitor tende a votar na esquerda.

Medo da moça 1

Assinada pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), a nota em defesa de Mariângela Fialek, a Tuca, servidora alvo de operação da Polícia Federal, expressa, mais do que solidariedade, o medo de que ela decida contar o que sabe sobre o processo de indicação de emendas parlamentares.

Medo da moça 2

Ex-funcionária de confiança de Arthur Lira (PP-AL), ex-presidente da Câmara, Tuca foi citada em depoimentos de deputados como a encarregada de formalizar as decisões vindas de seu chefe, articuladas com outros parlamentares. Sabe a placa e o Renavan do trator que era usado para aplainar o terreno.