Por: POR FERNANDO MOLICA

CORREIO BASTIDORES | Adversários de Flávio: na chuva para se queimar

Centrão aposta em desgaste e desistência do senador | Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

O Centrão e mesmo parte do PL decidiram aplicar no caso da pré-candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) à Presidência uma frase atribuída a Vicente Matheus (1908-1997), histórico e folclórico presidente do Corinthians: "Quem está na chuva é pra se queimar", declarou o cartola que, por 18 anos, comandou o time mais popular de São Paulo.

Ou seja: o melhor, por enquanto, é não comprar briga com Jair Bolsonaro, responsável pelo lançamento do nome do primogênito para disputar o cargo em 2026. O mais sensato seria então deixar que Flávio seja submetido ao desgaste de manter uma candidatura rejeitada por seus pares e, assim, tome a iniciativa de desistir.

 

Em busca de equilíbrio

O anúncio da pré-candidatura foi recebido com um silêncio quase absoluto de lideranças de partidos aliados; barulho mesmo fizeram a bolsa ao cair e o dólar ao disparar. Ontem, o mercado tentava buscar um ponto de equilíbrio — segundo um analista ouvido pela coluna, a rejeição ao nome de Flávio animou o mercado, que passou a apostar em sua desistência e na indicação de um outro nome da direita.

Caiado e Zema não desistem

Mineiro lembrou que Bolsonaro queria diversidade | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Dos três governadores de direita que se lançaram à Presidência, dois — Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás, e Romeu Zema (Novo), de Minas — anunciaram a intenção de manter suas pré-candidaturas. Caiado foi direto e procurou frisar o isolamento de Flávio: postou que era uma decisão de Bolsonaro e de sua família e que cabia a ele respeitá-la. Mas afirmou que continuava no jogo. Zema frisou que o ex-presidente lhe dissera apostar em múltiplas candidaturas — rejeita, portanto, a ideia de um nome único da direita.

Complicação de Tarcísio

Os dois e Ratinho Junior (PSD), do Paraná, têm a vantagem de estarem impossibilitados de disputar nova reeleição — será portanto previsível que deixem os governados no início de abril de 2026 para assim terem o direito de tentare qualquer outro cargo em outubro, entre eles, o de presidente da República. A situação de Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, é mais complicada.

Rasteira

Como Tarcísio pode disputar a reeleição, não faria sentido deixar o Palácio do Bandeirantes para se candidatar a outro cargo que não seja o de presidente. Candidato favorito do Centrão e do empresariado, ele contava uma espécie de apelo coletivo para concorrer ao Planalto — e tomou uma rasteira.

Planejamento

Engenheiro, ex-militar, Tarcísio tende a ser metódico, não segue os arroubos do padrinho Bolsonaro. Sabe que uma candidatura à Presidência, ainda mais contra um adversário forte como Lula (PT), exige planejamento, recursos, negociações, captação de recursos. O lançamento de Flávio o deixou paralisado.

'Águas vão rolar'

À coluna, o presidente do Republicanos, Marcos Pereira, disse que o partido não tomou decisão sobre a pré-candidatura: "Muitas águas vão rolar". Afirmou que não iria, ontem, a uma jantar com o 01 e os presidentes do PP, União Brasil e PL: "Flávio me ligou ontem convidando, mas disse que não posso".

Calma no MDB

Quem navega em águas tranquilas é o MDB. Presidido pelo deputado Baleia Rossi (SP), o partido já mandara dizer que não seria contra Lula nem a favor da direita em 2026. Fiel à tradição de priorizar disputas regionais, o MDB também procura escapar de posições que, lá na frente, impeçam eventuais acordos com os novos governantes.

Emenda e soneto

A possibilidade de um recuo de Flávio, anunciada pelo próprio pré-candidato, esbarra na condição que ele insinua — a concessão de anistia para seu pai. Nessa altura do campeonato, o Centrão não quer saber do barulho que representaria uma nova candidatura de Jair Bolsonaro à Presidência.

Esperança

A fria recepção a Flávio anima a centro-direita na busca de uma candidatura alternativa. O grande problema é fazer isso sem ser chamada de traidora por Bolsonaro e seus eleitores — sem estes não dá para ganhar. Há, porém, a expectativa de que bolnaristas aceitem tudo para impedir o PT de ficar no Planalto