Por: Fernando Molica

O silêncio em torno de Flávio

Eventual candidatura foi recebida de forma discreta na direita | Foto: Jefferson Rudy

O silêncio da direita à possibilidade de o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) ser candidato à Presidência da República foi ensurdecedor. O assunto foi tema de especulações e notas na imprensa, um tipo de vazamento comum no universo político, feito até para testar reações. Mas a discrição tem sido vencedora.

O resultado mostra que a maioria do campo conservador — aí incluído o tal do mercado — quer mesmo é apoiar a candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) ao Planalto.

Ninguém da área quer brigar com Jair Bolsonaro e filhos,  mas há uma evidente expectativa de que a prisão do patriarca funcione como uma espécie de limpeza de terreno capaz de abrir caminho para uma direita menos briguenta e, pelo menos aparentemente, mais civilizada e não golpista.

O problema é que o ex-presidente sabe que, mesmo entre aliados, muita gente prefere que ele e a família não sejam protagonistas em 2026. É aquele pessoal que quer o bônus dos votos bolsonaristas, mas que pretende afastar o cálice de sucessivos gestos de insensatez cometidos pelo clã.

E é aí que a situação fica complicada: a prisão domiciliar, a condenação e a provável ida para a Papuda fizeram com que Bolsonaro perdesse parte de seu protagonismo, diminuíram seu peso político, e aumentaram o risco do que ele classifica de traições.

Desde quando estava no Planalto que ele temia tomar rasteiras. Criou, com a ajuda dos filhos uma espécie de muro capaz de fazer inveja ao montado pelo Bope na operação nos complexos do Alemão e da Penha. Não vacilou em gritar "Fogo!" quando desconfiava de algum movimento suspeito, e tome de corpos estendidos no chão. Agora, ele é que corre o risco de ficar sem retaguarda com a eventual ascensão de outro nome da direita, um que não carregue seu sobrenome.

Fragilizado, Bolsonaro está ainda mais preocupado com o risco de virar retrato na parede da direita. Sabe que ainda tem muito prestígio junto a uma parcela expressiva do eleitorado, mas consegue imaginar outros na sela do cavalo que, em 2018, passou à sua frente. Sua resistência em apoiar um nome alternativo à Presidência — estamos a menos de onze meses da eleição — mostra que ele não quer dar seu aval a ninguém.

O Congresso deverá, nas próximas semanas, definir se haverá redução de penas para os condenados por tentativa de golpe ou anistia, ou adiará a decisão ficará para 2026, ou para sabe-se se lá quando. O certo é que o início do recesso parlamentar, em meados de dezembro, liberará de vez a direita ampliada pelo Centrão definir o que fazer, quem lançar.

Bolsonaro foi muito útil para quebrar a hegemonia petista, mas está longe de ser um político do jeito que a política gosta. Arrumou brigas desnecessárias até mesmo depois de entregar o governo para o Centrão e correr livre para a galera do cercadinho.

Preso, abre espaço para a direita se arrumar sozinha, sem se preocupar com gente que dá tiro em policial federal, que corre armada atrás de adversário, que briga com vacina e que sabota medidas sanitárias. Dos filhos, Flávio é o que mais se aproxima do padrão consagrado por aqui; mas é um Bolsonaro, seria incapaz de romper com o pai ou de deixar de cumprir suas ordens.

A questão é saber se a própria direita vai querer comprar briga com aquele que a levou para dentro do Planalto, e que ainda é capaz de carregar muita gente para as ruas. Sem um Bolsonaro na chapa, conservadores podem voltar a aplicar no PT o carimbo de radical e se apresentarem como o tal do centro, algo que existe na geometria mas que, na política, serve apenas para mascarar uma direita que sabe usar talheres e não ousa dizer o próprio nome. Podem ganhar um bom discurso; mas perderem votos.